Secret Diaries
Sinopse:
Tudo aconteceu completamente diferente.
Alice seguiu as ordens de Edward, e não visualizou o futuro de Isabella. Não a viu cair do penhasco... Não achou que ela havia morrido.
Edward não ficou sabendo, e cumpriu a promessa que fizera: "Eu prometo que você nunca mais vai me ver... Vai ser como se eu nunca houvesse existido".
Agora, mais de cinquenta anos depois, o passado volta para assombrá-lo, de uma forma arrebatadora.
A vida seguiu seu rumo... O ciclo da vida formou seus laços...
Mas o que é nosso está guardado.
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Observaçõs sobre a Fic: Eleita MELHOR FIC (Janeiro/2010) pela TOP FANFICS TWILIGHT!
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PRÓLOGO
Eu sabia que poderia me arrepender profundamente, quando pronunciei aquelas palavras para Bella. Quando fui embora e disse que ela não servia para mim, que ela não pertencia ao meu mundo, que ela devia me esquecer e seguir com a vida.
Eu sabia que estava deixando para trás a melhor parte de mim, de minha existência. A única coisa que me fazia sentir realmente vivo.
Mas não me importava. Afinal, Bella seria mais feliz com a minha ausência. Ela refaria sua vida e não estaria mais em risco.
O que eu não sabia é que teria que lutar diariamente, durante toda a eternidade, com a ânsia de voltar... Com o desejo quase incontrolável de esquecer de tudo e ficar com ela, protegê-la.
Foi uma luta árdua e cansativa. Cada dia, uma nova vitória. Mas eu consegui.
Sempre quis saber como foi a vida de Bella, nos últimos cinquenta anos que se passaram.
Devemos tomar cuidado com o que desejamos.
CAPÍTULO I – Remoendo o passado
- Bella, nós vamos embora.
- Quando você diz nós...
- Quero dizer minha família e eu.
- Tudo bem. Vou com você.
- Não pode, Bella. Aonde vamos... Não é o lugar certo para você.
- Onde você está é o lugar certo para mim.
- Não sou bom para você, Bella.
- Não seja ridículo. Você é a melhor parte da minha vida.
- Meu mundo não é para você.
- Você prometeu! Em Phoenix, você prometeu que ficaria...
- Desde que fosse o melhor para você.
- Tem a ver com a minha alma, não é? Você pode ter minha alma. Não a quero sem você... Ela já é sua!
- Bella, não quero que você venha comigo.
- Você... não... me quer?
- Não.
- Bom, isso muda tudo.
- É claro que sempre a amarei... De certa forma. Permiti que isso durasse tempo demais. Lamento.
- Não lamente. Não faça isso.
- VOCÊ NÃO É BOA PARA MIM, BELLA.
- Se... É isso que você quer.
- Mas gostaria de lhe pedir um favor, se não for demais.
- O que quiser.
- Não cometa nenhuma imprudência, nenhuma idiotice. Entende o que estou dizendo? Estou pensando em Charlie, é claro. Ele precisa de você. Cuide-se... Por ele.
- Vou me cuidar.
- E, em troca, vou lhe fazer uma promessa: prometo que essa será a última vez que você vai me ver. Não voltarei. Não a farei passar por nada como isso novamente. Você poderá seguir com sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se nunca tivesse existido. Não se preocupe. Você é humana... Sua memória não passa de uma peneira. O tempo cura as feridas para a sua espécie.
- E as suas lembranças?
- Bem... Não vou esquecer. Mas MINHA espécie... Nós nos distraímos com muita facilidade. Acho que isso é tudo. Não vamos incomodá-la de novo. Adeus, Bella. Cuide-se.
Cinquenta anos se passaram. E todas as horas, de todos os dias dessas cinco décadas, eu repassei esse diálogo em minha cabeça, repetidamente, sem fim, remoendo um passado distante.
Junto com as palavras, vinham as sensações. As milhares de sensações desagradáveis que senti naquele dia fatídico em que pronunciei-as, em que deixei para tras o grande - e único - amor de minha existência.
Bella.
Todas as vezes em que me recordo desse momento terrível, naquele bosque úmido em Forks, revivo também a sensação de sentir meu coração ser arrancado do meu peito e ter ficado com Bella.
Durante quase dez anos eu fugi. Fugi de minha família, que mal conseguia me contactar.. Comunicava-me com eles de meses em meses, quando me lembrava.
Fugi do passado, mas essa era uma batalha perdida... Apesar de tê-la deixado em Forks, com um bilhete para Charlie caso não retornasse para casa, de alguma forma tinha ficado lá com ela, meus pensamentos não haviam me acompanhado.
E, acima de tudo... Eu tentava fugir de mim mesmo.
Ninguém pode imaginar a luta diária que eu travava comigo mesmo para não descumprir minha promessa. Todos os segundos eu tinha que me convencer de que voltar seria o maior ato de egoísmo que poderia tomar. Seria a decisão mais egocêntrica e irresponsável de toda a minha existência.
Porque eu fora a pior coisa que poderia ter acontecido na vida de Bella.
Ela merecia ter uma vida normal... Um vislumbre de futuro de uma humana comum, apaixonando-se por alguém de sua espécie, que a amasse, que pudesse dar-lhe tudo o que ela merecia... Amor, filhos, uma vida saudável e feliz, durante toda a vida.
Eu sabia que ninguém, jamais, iria amar Bella tanto quanto eu. Mas o amor, somente, não pode vencer.
E foi segurando-me nisso, na certeza de que minha decisão foi o melhor para ela, que consegui me controlar e continuar fugindo. Fugindo de mim mesmo.
Mesmo sabendo que, a partir do momento em que abrira mão de Bella, eu havia deixado de viver. Passara somente a existir, uma existência longa e árdua, caminhando em círculos, sabendo que para qualquer lugar que eu fosse, não chegaria a lugar algum. Pois o único caminho que eu realmente gostaria, desejava, necessitava tomar... Estava fechado para mim. E eu mesmo havia trancado a porta.
Quando aproximou-se o final da primeira década, os telefonemas de minha família - principalmente de Esme e Alice - tornaram-se muito mais constantes. Esme estava cada vez mais triste com minha ausência, e vê-la sofrer por minha causa fazia com que eu me sentisse ainda pior, o que eu achava que era impossível. Alice também estava triste com a distância que eu havia estabelecido. E cada dia mais tendente a desobedecer minha ordem de não visualizar, de forma alguma, o futuro de Bella.
Esse foi o principal motivo para que eu retornasse.
Eu não queria quebrar minha promessa. Só eu sabia o quanto era difícil mantê-la. Se soubesse de qualquer notícia, qualquer coisa sobre Isabella... Eu iria atrás dela, onde quer que fosse. E isso era algo que, definitivamente, não poderia acontecer.
Já haviam se passado dez anos, então. E isso era muito tempo para os humanos.
Todos os dias eu imaginava que rumo a vida de Bella teria tomado. Quanto tempo ela levara para superar o nosso término... Que faculdade havia escolhido, quais livros havia lido, quantas vezes relera os livros antigos... E, principalmente... Se havia encontrado alguém por quem tivesse se apaixonado. Se havia se casado, tido filhos, vivido uma vida normal e saudável.
Se estava feliz.
Eu não avisei que estava retornando. Até porque não foi uma decisão premeditada, o que Alice teria detectado de imediato, tão ligada em meu futuro estava, e eu sabia disso.
Em uma de suas últimas ligações, Esme havia deixado escapar que estavam de volta ao Alasca. Os Denali ainda estavam abalados demais com a morte de Irina, e Carlisle decidiu passar um tempo com eles, para ajudar.
Quando eles me viram ficaram atônitos e radiantes.
Foi a primeira vez que senti uma centelha de felicidade, depois de tanto tempo. Eu já nem me lembrava mais como era esse sentimento, mas foi bom redescobri-lo ao ver o rosto das pessoas que eu amava profundamente, e que também me amavam, expressando uma felicidade imensa ao me encontrar depois de tanto tempo.
Contei-lhes tudo o que eu havia feito... Os lugares por onde havia passado, começando por minha jornada pelo Rio de Janeiro, na América do Sul, atrás de Victória - a quem, aliás, eu nunca encontrei.
Depois que todas as novidades -que não eram nada atraentes, já que eu vivia como um nômade, escondido, saindo esporadicamente a noite, me alimentando de ratos e outros seres desagradáveis - foram contadas e recontadas, com todos os detalhes de praxe, a vida começou a voltar a normalidade.
Para todos, menos para mim.
Porque, se minha existência antes de Bella era monótona e sem sentido... Depois de conhecê-la, sua ausência criou um buraco tão grande em meu peito que era quase insuportável. E o pior é que nada poderia preenchê-lo. Eu teria que viver eternamente com tal sensação incômoda, com essa dor insuportável.
Mas de uma coisa eu tinha certeza: se eu pudesse escolher... Escolheria o buraco em meu peito à nunca tê-la conhecido. Pois até essa dor lancinante é melhor do que nada. A dor é a prova de que Bella existiu; a prova de que a pessoa mais maravilhosa do mundo fora minha por um curto espaço de tempo, e que deixara sua marca.
E assim passaram-se todos os meus dias, irritantemente lentos, durante os últimos cinquenta anos: comigo remoendo um passado distante e sabendo que jamais voltaria a ser feliz como fui naquela época.
CAPÍTULO II – O (re) Encontro
POV DE EDWARD
Não fazia muito tempo que havíamos nos estabelecido em Londres. Nós esperávamos um inverno rigoroso para que pudéssemos aproveitar as grandes metrópoles; esse era a única maneira de podermos viver da forma mais normal possível - se é que normal é um adjetivo apropriado.
Nem havíamos nos matriculado em algum estabelecimento de ensino... Carlisle é que já havia começado a trabalhar: como era um ótimo profissional, sempre que precisávamos nos mudar com urgência ele conseguia ótimas recomendações, para onde quer que fosse.
Estava nevando bastante. Olhei ao redor e todos estavam tranqüilos no enorme apartamento que havíamos alugado, a lareira acesa transmitindo um ar de aconchego ao ambiente.
Não que sentíssemos frio, de jeito algum. Mas o calor que emanava do fogo era agradável aos nossos corpos gélidos.
Eu tocava a música que havia composto para Esme no maravilhoso piano de cauda branco que havia no meio da sala, enquanto ela estava sentada no banco ao meu lado.
Alice e Jasper estavam acomodados no sofá, observando meus dedos correrem profissionalmente pelas teclas, assim como Carlisle, Rosalie e Emmet, em pé do lado oposto da sala.
Todos sorriam, seus pensamentos acompanhando a melodia que emanava do instrumento, e que parecia exalar de meu prório corpo, também.
Então, sem pensar, como se meus dedos agissem por puro instinto, a melodia desacelerou e transformou-se em outra música. Uma música que eu não tocava há mais de cinquenta anos. A canção de ninar que eu havia composto para Bella.
Pude perceber que todos ficaram surpresos - e preocupados. Os sorrisos espontâneos de antes tornaram-se forçados, e os pensamentos, antes livres e despreocupados, teimavam em indagar-se o que eu estava fazendo, por que eu havia, enfim, decidido voltar a tocar aquela canção.
A verdade é que nem eu mesmo sabia a resposta para tais questionamentos. A única coisa que eu sabia era que estávamos no dia 13 de Setembro, e era aniversário de Bella. Ela estaria comemorando 68 anos.
Aquela, acredito eu, foi a única forma que meu cérebro encontrou de homenageá-la.
Quando acabei de tocar, Esme afagou meu ombro, numa forma de demonstrar solidariedade... Numa forma de dizer que também lembrava-se daquela data e que também sentia saudades de Bella.
Fugi dos pensamentos de Jasper... Ele ainda se martirizava por eu ter me separado de Bella, mesmo após eu ter lhe explicado que não faria diferença: nós nunca poderíamos ter ficado juntos de qualquer maneira.
Levantei-me, vesti um sobretudo, luvas e um cachecol (o que um humano faria se fosse sair naquelas condições) e saí, sem que ninguém me fizesse uma única pergunta.
A única coisa que ouvi foi o último pensamento de Alice:
"Por favor, apenas volte para casa."
Fui seguindo o caminho pelo qual minhas pernas me levavam, sem ter um destino certo. A noite de Londres estava fria. Eu estava cansado de ficar em casa. Já não sabia mais o que fazer para matar o tempo, enfrentar a solidão.
Estava distraído, quando uma música me chamou a atenção. Fazia mais de cinquenta anos que eu não escutava aquela melodia:
MÚSICA: Flightless Bird, American Mouth – Iron & Wine
"I was a quick wet boy
Diving too deep for coins
All of your straight blind eyes
Wide on my plastic toys
And when the cops closed the fair
I cut my long baby hair
Stole me a dog-eared map
And called for you everywhere
Have I found you?
Flightless bird, jealous, weeping
Or lost you?
American mouth
Big bill looming
Now I'm a fat house cat
Cursing my sore blunt tongue
Watching the warm poison rats
Curl through the wide/white fence cracks
Kissing on magazine photos
Those fishing lures thrown in the cold and clean
Blood of Christ mountain stream
Have I found you?
Flightless bird, climbing, bleeding
Or lost you?
American mouth
Big bill, stuck going down"
TRADUÇÃO: Pássaros Incapazes de voar, boca americana – Iron & Wine
"Eu era um garoto rápido e molhado
Mergulhando fundo por moedas
Diretamente nos seus olhos cegos
Largo nos meus brinquedos de plástico
E quando os policiais fecharam o parque de diversões
Eu cortei meu longo cabelo de bebe
Roubaram meu mapa marcado em paginas
E chamei por você em todos os lugares
Eu achei você?
Pássaro de fuga, invejoso, chorando
Ou perdi você?
Boca Americana
Grandes contas aparecendo
Agora eu sou um grande gato gordo
Amaldiçoando minha dolorida e cega lingua
Assistindo o quente veneno de ratos
Cachos pelas amplas / brancas fendas da cerca
Beijando uma foto de revista
Os que pescam iscas lançadas no frio e limpo
fluxo do sangue da Montanha de Cristo
Eu achei você?
Pássaro voador, cabelos castanhos sangrando
Ou perdi você?
Boca americana
Grande conta, emperrada caindo."
No mesmo instante uma onda de nostalgia percorreu meu corpo. Minha mente imediatamente remeteu-se a uma cena que ocorrera tantos anos atrás.
Um baile. Essa música. O amor da minha existência.
Bella.
Eu nunca consegui esquecê-la. Nunca superei a dor imensa, a falta que ela me fazia. Hoje, mais do que nunca, eu tinha absoluta noção disso.
Entrei no bar de onde a música fluia, ávido por absorver as últimas notas daquela canção que me trazia tantas lembranças magníficas. O lugar estava calmo. Poucas pessoas nas mesas, algumas em volta de uma mesa de sinuca. As luzes eram fracas, e fariam do ambiente um lugar sombrio, não fosse a alegria que radiava dos jovens ali presentes.
Olhei para o palco, do lugar de onde vinha a música. Um jovem cantava no videokê, para uma platéia sorridente e calorosa.
" - Now I'm a fat house cat
Cursing my sore blunt tongue
Watching the warm poison rats
Curl through the wide/white fence cracks
Kissing on magazine photos
Those fishing lures thrown in the cold and clean
Blood of Christ mountain stream..."
Ele fez uma pausa, esticando a mão para a platéia: - Bella! Ei, você mesmo! Venha aqui me ajudar!
Uma garota, na faixa de 18 anos, colocou-se de pé e subiu no palco, timidamente.
Eu parei de respirar.
Aquela Bella era a minha Bella. Meu amor.
Não entendi nada. Havia se passado o quê? Cinquenta anos!
Não importava. Eu precisava falar com ela.
"- Bella vai dar um show, agora, quer apostar?"
Os amigos sentados na mesa de frente para o palco falavam baixo, mas eu podia ouvi-los perfeitamente.
"- Rá. Com certeza. Sean sabe que ela odeia ser provocada, ainda mais em público."
Bella pegou outro microfone e, com uma desenvoltura estonteante, começou a cantar em dueto com Sean:
- "Have I found you?
Flightless bird, jealous, weeping
Or lost you?
American mouth
Big bill looming..."
Eu conseguia ler a mente de Sean... Via ele pensar na música, tentando recordar da letra. Mas, como sempre, a mente de Bella era totalmente bloqueada para mim.
Aproximei-me mais. Sabia que era perigoso. Lembrei da primeira vez que eu a vira, no colégio em Forks. Lembrei da vontade que eu tive de matá-la. Porque antes de mais nada, o sangue de Bella tinha um efeito quase irrefreável em meu instinto.
Mas mesmo assim continuei me aproximando. Era mais forte do que eu.
Quando estava a poucos metros do palco, inspirei.
Uma onda de alívio percorreu meu corpo, juntamente com uma onda de desapontamento total e de uma dúvida gigantesca.
Primeiro, porque o aroma singular não invadiu meu corpo. Minha garganta não ardeu violentamente em sinal de protesto e sede. Aquela não era a minha Bella. O aroma que emanava da jovem era gostoso, até mesmo levemente similar... Mas nem de longe causava o efeito devastador que o sangue de Bella tinha sobre mim, e agradeci a Deus por isso.
Segundo... Somente quando senti vontade de gritar de dor ao detectar que aquela não era a minha Bella; ao perceber que eu não poderia ir até lá e tomá-la nos braços'; por sentir vontade de desaparecer ao constatar que eu não havia matado a saudade de seu cheiro... Só aí percebi o quanto minha alma ansiava por vê-la de novo, mesmo que de longe.
E terceiro: se aquela não era a minha Bella... Quem era?
Continuei parado, observando-a cantar. A voz também era similar, mas não era a mesma.
Então a garota virou-se e seus olhos encontraram os meus.
Por um momento ela parou de cantar, suas pálpebras fechando-se em fenda para enxergar-me melhor, uma ruga vincando a testa. Então ela piscou e sacudiu a cabeça, retornando à canção, mas seu olhar continuou fixo em mim.
Quando a música terminou, seus amigos aplaudiram e Sean abraçou-a pela cintura, suas pernas balançando no ar.
- Heeeey, Bells! Perfeito como sempre, amor! – Beijou-lhe descontraídamente os lábios e começou a descer do palco, dando-lhe a mão de apoio, para que descesse também.
Ela segurou a mão de Sean por hábito, pois seus olhos ainda sustentavam o meu olhar.
- Sean... – ela falou baixo, mas foi perfeitamente audível para mim. – Amor, vai indo pra mesa... Acho que reconheci alguém... Um amigo. Ok?
Sean olhou para trás, seguindo o olhar de Bella, forçando a vista para me enxergar melhor. Eu não me movi.
- Ok. Não demora, tá? – Ele falou, e logo após ela lhe deu um beijo rápido e veio em minha direção.
Os cabelos cor de mogno balançavam suavemente enquanto ela caminhava, e uma mecha ficou presa em seus lábios quando ela virou-se para trás, para acenar uma última vez para Sean.
- Olá – ela disse, parando na minha frente e sorrindo. – Meu nome é Isabella. Mas todos me chamam de Bella. Desculpe, mas... Eu conheço você de algum lugar?
Ela me analisava por completo; parecia que queria puxar da memória de onde me conhecia.
- Hum, acho que não, realmente.
- Estranho. Tenho a sensação de que seu rosto me é familiar...
- Devo ser uma pessoa comum. Você não é a primeira que me diz isso.
Ela continuava a me analisar.
- Qual o seu nome? – perguntou, sem rodeios, tendo em vista que eu ainda não havia me apresentado.
- Edward Cullen. Muito prazer, Bella.
Pude ver que o tom corado, até então presente em seu rosto, esvaiu-se completamente, e sua expressão demonstrava que ela não acreditava no que havia acabado de ouvir.
- Desculpe, você disse... Edward Cullen?
- Sim... – respondi, agora bastante receoso. – Exatamente.
Então ela estendeu a mão para mim, e agradeci por estar de luvas.
- Muito prazer, Edward. Meu nome é Isabella Marie Black Uley.
Isabella Marie... Black... Uley? O que diabos aquilo significava?
- Er... Edward? – voltei de meus devaneios, e percebi que ainda segurava a mão de Bella.
- Desculpe-me eu... – murmurei, ainda meio desnorteado, tentando assimilar aquela informação.
- Engraçado... Sempre pensei em como seria se um dia te encontrasse. No que falaria... Mas nunca acreditei que isso pudesse acontecer realmente.
Eu não estava entendendo absolutamente nada do que ela dizia. E ela percebeu isso.
- Sei que você deve estar um tanto quanto... Confuso. Mas o fato é que... – ela deu uma leve olhada para trás, e Sean estava nos observando. – Bem, eu não posso conversar agora. Peraí.
Ela mexeu no bolso de trás da calça jeans que usava e tirou um papel. Cutucou um garçom que servia a mesa ao lado de onde estávamos parados e lhe pediu uma caneta.
- Aqui... Pronto! – falou, enquanto anotava algo no papel. – Me liga pra gente conversar pessoalmente, ok? Vou ficar esperando.
Me entregou o papel meio amassado e aproximou-se mais um passo.
- Sabe... Minha avó tinha razão quando disse que você deslumbrava as pessoas.
Ela se virou e saiu, e eu continuei ali, parado, sem conseguir mover um único músculo do meu corpo.
FIM DO POV DE EDWARD
POV DE BELLA B. U.
Eu reconheci o rosto do homem que me encarava de algum lugar, mas não sabia de onde. E ele simplesmente ficou ali, parado, enquanto eu cantava com Sean. Não sei como não perdi toda a concentração!
Resultado? Quando a música acabou eu tive que ir falar com ele. E, quando eu descobri quem ele era... Juro por Deus, quase morri do coração!
Eu não queria deixá-lo ir. Queria ficar ali e conversar com ele, ouvir o que ele tinha para falar... Mas eu sabia que, àquela altura, Sean estaria quase parindo um filho pelo ouvido, só de me ver conversando com um homem que ele não conhecia.
E que homem! Tenho que admitir, minha avó tinha bom gosto.
Bem... Ele não era humano, na verdade, e eu sabia.
Então, o máximo que pude fazer foi escrever meu telefone num pedaço de papel e entregar para ele, e começar a rezar para que ele não sumisse, que simplesmente me ligasse.
Voltei para a mesa e Sean estava com uma cara completamente emburrada. Tive até que achar engraçado. Às vezes Sean era ciumento ao extremo.
- Ah, até que enfim o seu amiguinho te liberou, né? – ele foi falando antes mesmo que eu me sentasse. – Quem é o cara? Você conhece ele de onde, Bells?
- Ih, Sean! Uma pergunta de cada vez, baby! – respondi, tomando um gole da cerveja que já havia praticamente esquentado por completo. – Ele é um amigo que conheci da última vez que vim à Londres...
Nós estávamos fazendo intercâmbio de seis meses na cidade, que iria acabar no próximo mês. Mas eu já havia feito uma viagem sozinha, estilo mochileira, nas minhas últimas férias do colégio.
- Hum. Você nunca me falou que tinha feito amizades aqui...
- Ai, Sean! Porque não pensei que precisasse fazer um relatório de tudo o que já aconteceu na minha vida, quando comecei a namorar você!
- Gente, sem querer interromper, mas já interrompendo... – Martha inclinou-se sobre a mesa para falar conosco. – Quq amigo lindo! O homem é um Deus grego, Bells! Te cuida, hein Sean! Hahahahaha!
- Rá. Rá. Rá. Muito engraçadinha você, Martha – Sean não estava achando graça nenhuma naquela conversa, e isso era explícito em sua fisionomia. – Não acho graça nenhuma nesse cara. É o tipo de beleza óbvia - copletou, bufando e revirando os olhos.
- Ahhhh, sim! – Martha continuou, adorando colocar pilha em Sean. – Porque as belezas óbvias são as piores, né? Aquelas que estão ali, bem na sua cara, que você não precisa se esforçar pra ver? Porque o bom mesmo é você ficar procurando, arduamente, até achar alguém bonito. Esse é o grande charme da conquista! – ela estava sendo irônica, claro. – Ah, fala sério, Sean! O cara é perfeito!
- Gente, gente... – interrompi, antes que Sean tivesse uma síncope nervosa, o que eu sabia que não estava longe de acontecer. – Para com isso! Sean, amor... Não tem nada a ver! Acredita em mim, tá? Ele é realmente um amigo que eu não via há muito tempo, e que eu nem pensei que fosse encontrar um dia!
Sean assentiu, mas eu sabia que estava contrariado. Essa história ainda ia render um bocado em meu ouvido.
Ficamos ainda mais um tempo no Pub. Quando todos estavam cansados, e um tanto quanto alegres devido à cerveja, resolvemos ir para o apartamento que alugávamos. Agradeci a Deus por ser sábado e poder dormir até tarde no dia seguinte.
Quando saí do banho, Sean já estava completamente apagado na cama, a bochecha achatada sobre o travesseiro, e apenas o abajur do meu lado iluminava o quarto.
Fui até o armário e peguei uma caixa de sapatos na parte de cima, com cuidado, agindo devagar para não fazer nenhum barulho e acordar Sean. Retirei de dentro da caixa um pequeno livro de couro preto, já bastante envelhecido pelo tempo e do tamanho de uma agenda, e sentei-me na cama, perto do abajur.
Eu já havia lido e relido aquelas palavras milhares de vezes. Já praticamente as sabia de cor. Mas nunca me cansava de reler.
Hoje, então, eu verdadeiramente ansiava por elas. Palavras eternizadas por minha avó, Bella Swan Black, em seus diários.
"16 de Setembro de 2005.
Minha vida está acabada. O amor, a vida, o significado... Acabados.
Edward foi embora. Prometeu que nunca mais irá voltar, e que será, para mim, como se ele nunca houvesse existido.
E sei que é verdade. Que ele cumprirá sua promessa.
Ele levou com ele as lembranças físicas que provavam sua existência. O álbum de fotos que Renée me deu de aniversário estava no mesmo lugar em que eu havia deixado, mas, após abrí-lo nem precisei passar da primeira página.
As pequenas cantoneiras de metal não prendiam mais nenhuma foto. A página estava vazia, a não ser por minha própria letra rabiscada na parte de baixo: "Edward Cullen, cozinha do Charlie, 13 de setembro."
Não me dei ao trabalho de continuar verificando. Sabia, dentro de mim, que ele teria feito o serviço completo.
Deitei no chão de madeira, esperando apagar ali mesmo, sem ânimo de deitar em minha cama. Infelizmente, não perdi a consciência, e por isso decidi escrever nesse caderno, para tentar amenizar um pouco essa dor que sufoca meu peito e mata minha alma em doses aceleradas.
Mas sei que isso não vai adiantar.
Minha alma foi embora junto com Edward."
Todas as vezes que lia aquelas palavras meu coração ficava apertado em meu peito, como se uma mão o esmagasse lentamente. Era como se eu sentisse a dor e a mágoa que minha avó sentira... Como se ela me fizesse sentir todo o sofrimento por que passou, sozinha, sem ter com quem conversar.
Continuei, virando a página:
"Janeiro de 2006.
Só estou voltando a escrever agora, pois só agora minha mente começou a acordar de algo pior do que a própria morte.
Eu enclausurei-me dentro de mim mesma nos últimos meses. Não me lembro de como vivi - ou melhor, de como sobrevivi nesse tempo. Mas sei que estou aqui.
E hoje, um novo fato me deu um pouco de alegria.
Eu OUVI Edward.
Descobri que posso ouvi-lo quando me coloco em situações ameaçadoras e perigosas. Então já sei o que preciso fazer para que ele fique comigo, para que eu continue, pelo menos, sendo presenteada com o embalar reconfortante de sua voz.
Se é perigo que eu preciso encontrar para isso... É perigo que irei procurar."
Suspirei fundo e fechei o livro.
Não conseguia entender como alguém poderia amar tanto um outro ser, mais do que a si próprio. Como poderia se colocar em risco de morte apenas para ouvir uma voz, uma criação de sua cabeça?
Reabri o livro, já algumas páginas a frente.
"Janeiro de 2006.
Hoje uma luz clareou minha mente, de repente, quando eu menos esperava.
Estava no refeitório com os outros, e eles conversavam sobre trivialidades, e mais uma vez minha mente começou a vagar para longe.
Para ELE.
Eu ainda não consigo pronunciar seu nome, e nem ao menos consigo escrevê-lo.
Levantei sem tocar em minha comida, deixando para trás os olhares curiosos de Mike, Jéssica e Ângela, e me dirigi à secretaria.
Ele cometera uma falha.
Quando foi embora, levou todas as lembranças físicas com ele... As fotos que eu havia tirado... O CD que havia me dado de aniversário... Mas esqueceu-se uma coisa: a foto que tiramos no baile.
Quando peguei o envelope pardo na secretaria senti meu coração bater tão forte dentro do meu peito, que minhas costelas chegaram a doer.
Não tive coragem de abrir ali.
Saí e fui para a minha picape, e somente quando já estava lá dentro, sentindo-me minimamente protegida e completamente sozinha, rasguei a ponta do envelope e, delicadamente, retirei de lá de dentro a foto colorida.
Meu coração falhou uma batida.
Senti como se desfalecesse; como se minha alma saísse do meu corpo e observasse tudo de longe, como um telespectador curioso e receoso.
Ele era ainda mais perfeito do que meu cérebro humano e ineficaz se lembrava. E eu era ridiculamente normal e insossa ao seu lado.
Ambos sorríamos, eu terrivelmente sem graça e contrariada, ele olhando para mim, achando graça da situação. Eu usava o vestido azul que Alice havia me emprestado, e uma bota de gesso contrastava com o salto fino em meu outro pé, e por esse motivo ele segurava a minha cintura gentilmente, me dando apoio e coragem.
Meus olhos transbordaram em questão de segundos e apertei a foto contra meu peito, imediatamente sentindo o buraco se abrir, o vazio tomar conta do meu ser.
Ele quebrou a promessa que havia feito.
Jamais seria como se ele nunca tivesse existido, então."
Peguei a foto, já meio desbotada, que encontrava-se em meio as páginas.
Eles formavam um belo casal. Era notável o olhar apaixonado de Edward enquanto olhava para minha avó, o sorriso meio torto imaculadamente registrado pela máquina.
Era difícil acreditar que ele tivesse a deixado daquela forma, depois de tudo o que havia lutado para ficar junto de minha avó, para mantê-la viva.
Eram diversos os diários escritos por ela durante toda a sua vida. No início, eu não entendia bem o que havia acontecido, o motivo pelo qual ele a havia deixado. Não entendia por que ela dizia que, do lado dele, era apenas uma humana insossa.
Fui descobrir a história de vampiros e lobos mais para frente, e, assim como minha avó, não fiquei chocada com nada. Nada me surpreendia com facilidade.
Folheei mais algumas páginas a frente e voltei a ler:
"Fevereiro de 2006.
Descobri algo que pode mudar minha vida: eu amo Jacob.
Desobri que preciso dele como uma droga. Usei-o como muleta durante muito tempo, e fui mais fundo do que pretendia ir com qualquer outro.
Eu JAMAIS quis amar Jacob. Isso é algo que eu tenho certeza – sei disso na boca do estômago, no cerne de meus ossos, sei disso do alto de minha cabeça à sola dos meus pés, sei no fundo do meu peito vazio e dolorido – o amor dá as pessoas o poder abrasador de despedaçar conosco.
Agora sofro duas vezes.
Pois agora também sofro por saber que magoarei Jacob, alguém que NUNCA, JAMAIS gostaria de fazer sofrer.
Mal consigo suportar a idéia de magoá-lo, mas ao mesmo tempo não consigo visualizar uma maneira de não fazê-lo. Ele acha que o tempo e a paciência me farão mudar.
E embora eu saiba, dentro de mim, que ele está tremendamente enganado, sei também que o deixarei tentar, e que isso irá aumentar ainda mais suas esperanças.
Ele é meu melhor amigo. Meu sol. Eu sempre o amarei dessa forma, e isso nunca, jamais será o suficiente para ele."
Sorri após ler aquelas palavras escritas numa caligrafia tão parecida com a minha. Eu mesmo me surpreendia em como eu e minha avó éramos tão parecidas, não só fisicamente, mas em tantas outras coisas.
E em como éramos tão diferentes em outras, também.
Porque eu jamais iria me deixar abater de forma tão maléfica por alguém que me abandonara após prometer-me amor eterno, após prometer me proteger de tudo e de todos. Alguém que me enganara tão cruelmente quanto Edward fizera com ela.
E sorri, também, por ver que quando escrevera aquelas palavras minha avó realmente acreditava ser impossível amar Jacob de uma forma diferente, a não ser como a um bom amigo.
Ela nunca imaginaria que poderia amá-lo como homem, tê-lo como companheiro, e que seria sua mulher pelo resto da vida.
Realmente, às vezes a vida nos surpreende.
Eu ia reabrir o diário quando meu celular, que estava no modo silencioso sobre a mesinha de cabeceira, acendeu.
"Chamada de número privado."
Olhei para Sean, que estava em sono profundo, e levantei-me sorrateiramente da cama, levando o diário comigo, entrando no banheiro e fechando devagar a porta atrás de mim.
Respirei fundo e atendi.
- Alô?
- Hã... Bella?
Aquela voz.
- Olá, Edward.
- Olá. Desculpe por estar ligando a essa hora... É que eu realmente necessitava conversar com você.
- Sim, sim... Eu também – fiz uma pausa, e ele também não falou nada, então continuei: – Mas agora não posso, estou sussurrando porque senão meu namorado acorda. Mas podemos nos encontrar amanhã, o que você acha?
- Ótimo. Amanhã seria ótimo – pude perceber um toque de ansiedade em sua voz.
- Ok, então. Você me liga e eu te digo onde me encontrar, certo?
- Sim, certo – mais uma vez silêncio na linha. – E... Bella?
- Sim?
- Sua... avó... – ele engoliu seco para pronunciar a última palavra, pude perceber. – Ela está... bem? Ela está VIVA?
Dessa vez quem ficou em silêncio foi eu.
- Acho que será melhor conversarmos pessoalmente, Edward. Estou sussurrando dentro do meu banheiro, no meio da madrugada. Tudo bem?
Ele soltou o ar pesarosamente, demonstrando sua frustração.
- Ok. Me desculpe, eu... Tudo bem.
- Ok, então. Até amanhã. Boa noite, Edward. Apesar de saber que você não vai pregar o olho, não é mesmo?
Silêncio, pela terceira vez em menos de dois minutos.
- Ok. Boa noite, Bella. Até amanhã. Durma bem.
Desliguei o telefone, guardei o diário e fui dormir. O dia seguinte seria longo, e eu estava ansiosa para que chegasse logo.
Eu ainda tinha que pensar no que eu faria para despistar Sean; afinal, seria domingo, não teríamos aula.
Coloquei o diário e o celular dentro da gaveta na mesinha de cabeceira ao meu lado, apaguei a lâmpada do abajur e deitei vagarosamente na cama, tentando ser silenciosa para não acordar Sean. Entrei sob o edredon, de costas para ele, que imediatamente passou o braço sobre mim, e encostei a cabeça no travesseiro. Esperei um segundo, e percebi que a respiração de Sean continuava tranqüila. Fechei os olhos.
- Com quem você falava no celular?
Levei um susto tão grande com a pergunta de Sean que quase engasguei com minha própria saliva.
- Pensei que você estivesse dormindo! – falei, voltando a fechar os olhos e tentando acalmar minha respiração.
- É, eu sei que você pensou – mordi o lábio inferior ante aquela afirmação de Sean. – Mas e aí... Não vai me responder? Quem era no telefone, Bells?
- Era minha mãe – menti, rezando para que ele não tivesse ouvido a conversa e me pego no flagra. – Ela disse que havia tentado falar comigo de dia, e como não conseguiu ficou preocupada e ligou de novo.
- Sua mãe? – mesmo no escuro e de costas para ele, podia sentir a desconfiança em sua voz. – Hum. E está tudo bem em La Push?
- Sim, sim... Está. Está tudo na mesma.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, Sean provavelmente pensando se finalmente acreditava em minha versão.
- Hum. Que bom, então – ele me puxou mais para junto de si. – Boa noite, amor.
Soltei o ar, aliviada.
- Boa noite, Sean.
Edward não me deu sossego. Esteve presente em meus sonhos durante todos os segundos da longa noite. E, exatamente por esse motivo, dormi mal. Me remexi a noite toda e acabei praticamente caindo da cama tão cedo acordei, principalmente para uma manhã de domingo.
Sean parercia realmente em sono solto dessa vez. Vesti uma roupa rápida e saí antes mesmo de ir ao banheiro, levando meu celular comigo. Parei no corredor, em frente a porta ao lado do meu quarto, e enviei uma mensagem.
"Martha...
Tá podendo sair rapidinho? Carl tá acordado?
Tô aqui na porta do teu quarto, vou esperar dez minutos, ok?
Bella."
Cruzei os braços e rezei para que Sean não acordasse e sentisse a minha falta. Quando os dez minutos estavam chegando ao fim, a porta do quarto de Martha se abriu.
- Oiii, Bells... – ela cochichava, enquanto fechava a porta com cuidado. – Bom dia! Caiu da cama?
- É... Pois é... – eu também falava baixo. – Martha... Desculpa te acordar a essa hora... Mas é que estava precisando de um favorzinho...
Ela cruzou os braços e me olhou, a expressão curiosa.
- Eu estava precisando dar uma saída agora de manhã... Sozinha – Martha arqueou a sobrancelha à essa última colocação. – E, como a gente está precisando fazer as compras do mês, já que nossa dispensa está praticamente vazia... Estava pensando se você poderia me convidar para ir contigo, e enquanto você fazia as compras eu resolvia a minha situação.
Martha passou a mão nos cabelos.
- E a sua... "situação"... Por acaso é alta, esbelta e tem os cabelos mais lindos que eu já vi na vida?
Suspirei fundo. Se eu precisava de um favor, Martha não podia sentir-se enganada.
- Sim... Tem a ver, sim – ela sorriu maliciosamente, ao que tratei de concluir: – Mas não da maneira que você está pensando!
- Eu? – ela arregalou os olhos e colocou a mão no peito, com ar de indignação. – Eu não estou pensando nada, Bella. Ai de mim! – me olhou, sorrindo. – Tudo bem. Daqui a meia hora bato lá e faço uma cena, certo?
Assenti e voltei para meu quarto, encontrando um Sean completamente apagado. Tomei banho e, cronometradamente em meia hora, Martha bateu à porta convocando-me para ajudá-la com as compras do mês.
Perguntei - já sabendo a resposta, é claro - se Sean não queria ir conosco para nos ajudar, afinal sempre enfrentávamos aquela árdua tarefa sozinha. Ao que ele, prontamente, disse que estava indisposto, que ia ficar com Carl esperando nosso retorno para almoçarmos juntos.
Peguei um casaco pesado; tinha olhado pela janela e o tempo estava feio, uma tempestade de neve prevista para a tarde, e saí acompanhada de Martha. Assim que chegamos ao calor que fazia dentro do carro, Martha falou.
- E aí? Você vai me encontrar onde, então? E que horas?
Eu realmente não fazia idéia. Ainda tinha que esperar Edward entrar em contato comigo. Eu nem podia retornar a ligação, já que o número que constava era privado.
- Eu te ligo assim que acabar – falei, e ela me olhou de soslaio, momentaneamente se desviando da direção. – Não deve demorar.
- Espero mesmo que não... Não gostaria de ficar horas enrolando dentro do supermercado, sozinha... E, além do mais, se passarmos muito do tempo de costume os meninos irão desconfiar. Sean já está com a pulga atrás da orelha!
Concordei e olhei para fora da janela. Havia poucas pessoas nas ruas. Todas estavam aproveitando aquela fria manhã de domingo para colocar o sono em dia.
Assim que Martha estacionou o carro, e que havíamos acabado de nos despedir, meu celular tocou.
- Alô? – minha voz saiu ansiosa.
- Bom dia, Bella – Edward, ao contrário, parecia calmo e sereno.
- Bom dia.
Ficamos alguns segundos em silêncio, até que ele finalmente falou:
- O nosso encontro de hoje ainda está de pé?
- Sim, sim. Inclusive, eu estaria livre agora. Você poderia me encontrar?
- Com certeza. Onde você quiser.
- Hum... Que tal no parque perto do rio? Com esse tempo deve estar bem tranqüilo por lá.
- Estarei lá em dez minutos.
- Ok, te encontro lá.
Enfim chegara o momento.
O momento em que eu conheceria Edward Cullen, tão citado em todos os diários de minha avó Isabella, que eu havia encontrado há anos atrás, no porão da casa de minha mãe.
O momento de encontrar com quem, eu acredito, foi o único e verdadeiro amor de minha avó.
O momento de encontrar o homem que a abandonara sofrendo, sem jamais olhar para trás.
FIM DO POV DE BELLA. B. U.
CAPÍTULO III – Esclarecimentos.
POV DE EDWARD
Desde que havia encontrado Bella, eu era outra pessoa. Estava totalmente transtornado.
Contei o que havia acontecido à todos; e, assim como eu, eles custaram a acreditar.
Eu havia conhecido a neta de Bella. Isabella Black Uley.
Aquele nome só podia significar uma única coisa: Bella havia se casado com Jacob Black. Seu filho, ou filha, havia se casado com a filha, ou filho, de Sam Uley. E então eles tiveram Bella.
Era impressionante a semelhança entre as duas. Não só fisicamente, mas também pelo fato de eu não conseguir ouvir seus pensamentos. O sangue também tinha uma leve e distante semelhança.
Sempre pensei em como teria sido a vida dela... Em como teria se desenrolado seu destino. Mas imaginar é uma coisa... Saber que Bella havia me esquecido; que havia superado nosso término e se apaixonado por outro homem, se casado com ele, tido filhos, netos... Isso era outra coisa completamente diferente.
Jogado no sofá de couro do meu quarto, não agüentei mais especular sobre tudo aquilo; precisava saber, ao menos, se Bella estava viva. Liguei para sua neta, que nada me esclareceu. Marcou para hoje, e foram as horas mais longas e infernais de toda a minha existência.
Cheguei ao local onde ela marcara nosso encontro e sentei-me num banco de madeira de frente para um rio que passava tranqüilamente, seguindo seu rumo, enquanto eu tentava desesperadamente reencontrar o meu. O tempo estava gelado; folhas secas cobriam praticamente todo o chão ao meu redor.
E foi exatamente o barulho das folhas secas que me avisou que Bella havia chegado.
- Edward? – virei-me para trás e ela estava parada ali.
Eu parei de respirar. Ela estava ainda mais parecida com a minha Bella, mais do que nunca.
Usava um arco fino no cabelo; jeans escuros, uma blusa de listras cinza e um casaco pesado cor de caramelo por cima. Luvas de lã cobriam suas mãos, aquecendo-a do frio. Suas bochechas estavam coradas, e eu adoraria saber se era por causa do frio cortante ou se era apenas fruto do nervosismo que ela sentia.
Acredito que era pelos dois motivos.
- Olá, Bella.
Ela me olhou, respirou fundo e se aproximou, ficando em pé ao lado do banco em que eu estava.
- Posso me sentar com você? – ela estava receosa e mordia o lábio inferior, do mesmo jeito que a avó teria feito.
- Sim, claro que sim – respondi, chegando um pouco para o lado, e ela sentou-se no espaço que restou.
Ficamos em silêncio. Bella olhava para o rio, assim como eu estava fazendo segundos atrás.
- Eu estava muito ansiosa por esse momento, sabe? – ela finalmente falou, sem me olhar. – Repassei várias vezes tudo o que eu queria te perguntar... E tudo o que eu queria te dizer.
Respirei fundo, minha garganta ardendo levemente ao inalar o cheiro do sangue de Bella.
- Eu também... – falei, mas minha voz falhou. – Eu também estava... Estou muito ansioso.
Enfim Bella me encarou, os olhos castanhos profundos e duvidosos.
- Você está ansioso porque deseja saber se minha avó... Se Bella ainda está viva, né?
Ela era direta.
- Sim – fui sincero. Era o mínimo que eu podia fazer. – Essa dúvida está me matando, na verdade. - Bella voltou a olhar para o rio, pensativa. - E então? – insisti, mesmo tentando me controlar.
Bella virou-se para mim, ficando de lado no banco.
- Sim. Sim, Bella está viva.
Assim que ela acabou de pronunciar aquelas palavras, uma corrente elétrica percorreu todo o meu corpo. Uma onda de alívio imensa, de saber que eu não poderia imaginar viver em um mundo em que Bella não existisse.
- Edward?
Olhei para ela, que me encarava ansiosa, tensa com minha reação.
- Ah, Bella... isso é... isso é maravilhoso! É a melhor notícia que eu já recebi em toda a minha... vida.
- Pode dizer existência – ela foi direta, mais uma vez. – Eu sei tudo sobre você.
Não fiquei chocado com tal declaração. Sinceramente, já esperava por isso. Afinal, como ela me reconheceria?
- E posso perguntar como você soube disso? Bella contou para você? E... Como ela está? Ela está bem? Está morando onde?
Isabella arregalou os olhos, provavelmente desnorteada com tantas perguntas.
- Eu já te respondi uma pergunta. Agora é a minha vez de perguntar.
Ela estava certa.
- Ok. Pode falar.
Ela respirou fundo, como se tomasse coragem.
- Por quê você abandonou minha avó? Por quê você foi embora daquela maneira, depois de dizer coisas tão cruéis? Depois de tudo o que vocês haviam vivido, de tudo o que passaram? E por quê... Por quê você se importa, se foi você quem decidiu partir e nunca, jamais a procurou?
A sensação de ouvir aquelas palavras foi tal qual se tivessem cravado uma estaca em meu coração. Ouvir de um terceiro sobre a dor que eu havia imposto à Bella... Saber de fato como ela sofrera, pensando que eu não a amava mais... Meu coração, frio e parado em meu peito, sangrava.
- Dizer adeus à Bella foi a coisa mais difícil e insuportável que eu já fiz em toda a minha existência.
- Não consigo acreditar, me desculpe – ela mexia no cadarço do casaco. – Se tivesse sido assim, tão insuportável, você teria retornado. E você não o fez.
- Foi para o bem dela – insisti, e enquanto eu falava ela balançava a cabeça negativamente. – Se você sabe o que eu sou, tem que entender. Bella corria riscos demais estando comigo. Ela não pertencia ao meu mundo... Eu tinha que dar-lhe uma chance para que pudesse ser feliz de verdade.
- Você não sabe de nada – ela enfim voltou a me encarar, e seus olhos faiscavam. Ela ardia de raiva.
Eu podia ouvir seu coração batendo freneticamente dentro do seu peito; podia ouvir o sangue pulsando forte em suas veias, sendo bombeado rapidamente para todo o seu corpo.
- Então me conta – ciciei, aproximando-me um pouco dela sobre o banco. – Responde o que te perguntei.
- Minha avó não me contou nada. Pelo menos, não pessoalmente.
Demorei para entender aquelas palavras. Mais alguém sabia de nossa história, então? Mais alguém sabia de nós?
- E como você...?
- Bella escreveu tudo em diários – ela falou, me interrompendo. Respirou fundo e continuou: – Há dois anos atrás, quando decidi viajar pela Europa, fui mexer no porão procurando uma mala e encontrei um baú, com vários diários dentro. Ela havia acabado de se mudar dali... Ainda haviam coisas dela na casa. Mas assim que eu encontrei, peguei para mim, e venho lendo e relendo desde então.
Diários? Então era isso.
Meu cérebro só pensava em uma única coisa: eu precisava lê-los.
- E só para constar... – ela continuou, trazendo-me de meus devaneios: – A sua promessa era falida desde o momento que você a pronunciou. Porque não havia como parecer que você nunca tivesse existido. Não para minha avó. E só de você ter pensado dessa forma, demonstra que você nunca a conheceu de verdade.
Aquela garota sabia exatamente como me nocautear. E ela não parou por aí:
- Sem falar que você também não foi eficiente na sua tentativa de levar consigo todos os rastros... Você esqueceu uma coisa.
Agora, mais do que nunca, Bella tinha toda a minha atenção.
- Eu saber sobre você... sobre sua espécie... É uma coisa. Eu te reconhecer é outra. Você não havia pensado nisso? – neguei com a cabeça. Eu mal estava conseguindo raciocinar com clareza, quanto mais falar. – Você esqueceu de levar a foto que vocês tiraram no dia da formatura. Minha avó guardou com ela. Hoje está desgastada, mas ainda dá para reconhecer você.
Ela abriu a bolsa e retirou um envelope pardo, que estava cheio. Abriu e tirou uma foto, entregando-me em seguida.
Meus olhos arderam, pela primeira vez em décadas. Bella sorria, tímida e irritada, para a câmera. O vestido azul, desbotado no papel mas completamente vívido em minha memória, realçava seu tom de pele.
Eu a olhava completamente deslumbrado.
- Você não me respondeu onde ela está – falei, sem tirar os olhos da foto em minhas mãos.
- Minha avó vive em La Push – Bella me respondeu, mexendo no envelope. – Junto com meu avô, Jacob. E com meus pais e meu tio.
Bella teve dois filhos, então.
- La Push – repeti baixo.
- Sim. E se te conto, é apenas porque sei que você não pode ir lá, que não tem permissão para ultrapassar a fronteira. Não acho justo que minha avó tenha que ver você. Não agora. Não depois de todos esses anos.
Ela começou a mexer na bolsa, preparando-se para partir. Me olhou novamente.
- Toma – disse, já de pé na minha frente, estendendo-me o envelope pardo. – Eu trouxe alguns dos diários para você dar uma lida. Mas não suma, ok? Eles são importantes para mim. Não devia, mas estou confiando em você.
Segurei o envelope, ainda atônito com tudo aquilo.
- Bella! – gritei e ela se virou. – Você não me respondeu... Ela está bem?
Ela ajeitou o cabelo atrás da orelha.
- Sim. Agora, finalmente, ela está bem.
Então Bella virou-se e partiu, sem olhar para trás.
Olhei por um momento o pequeno envelope que ela me entregara. Ao mesmo tempo em que eu ansiava por ler todos os diários de Bella... Eu tinha medo. Medo de ver escrito ali toda a mágoa, ressentimento e dor que eu havia imposto à ela.
Bem, era tarde demais para lamentações. Abri o envelope e peguei o primeiro diário. Senti um aperto no peito, no lugar onde meu coração deveria estar batendo.
A letra de Bella.
A letra que vi tantas vezes quando estudávamos em Forks; quando a vi pela primeira vez, anotando timidamente as explicações na aula de biologia; desenhando enquanto sua mente divagava; que tantas vezes conversou comigo por bilhetes quando não queríamos atrapalhar as aulas.
Mais uma vez a dor da saudade me inundou, como um mar de lembranças e recordações maravilhosas. Porque eu só tinha momentos perfeitos de Bella guardados em minha memória.
Engoli seco e fechei os olhos, preparando-me psicologicamente para o que encontraria ali, fosse o que fosse.
"Abril de 2006.
Jacob acaba de me deixar em casa.
Eu estou PERPLEXA.
Definitivamente, todas as histórias e lendas que eu ouvia quando era criança... Todas elas estão comprovando-se verídicas.
Jacob... O MEU Jake... Meu sol... É um lobisomem!
Primeiro fiquei muito receosa; não achei certo eles matarem pessoas inocentes para se alimentar.
Mas, depois, Jake me explicou que eles nunca fariam mal a humanos; pelo contrário, eles existiam apenas para nos proteger de outra espécie... A única espécie inimiga dos lobisomens: os vampiros.
Jacob me contou que havia conseguido matar Laurent; que fora muito mais fácil do que eu podia imaginar. Mas que a outra, a 'sanguessuga de cabelos cor de fogo´, como ele adjetivou, era mais difícil, mais rápida.
Foi nesse ponto que quase desfaleci.
Victória.
Ela estava ali, em Forks. Ela havia voltado para me matar. Para vingar a morte de James. Um companheiro por outro, exatamente como Laurent havia dito.
E, também exatamente como ele dissera, Victória ficaria decepcionada com seu plano, com sua vingança. Afinal, eu não signifiquei para Edward nem metade do que James significara para Victória... Tendo em vista que ele foi embora e me deixou aqui, completamente desprotegida e desamparada, sem sequer pensar duas vezes, sem sequer olhar para trás.
Mas agora, finalmente, acho que poderei dormir mais tranqüila. Jacob está aqui. Meu porto seguro. Meu sol. Sei que posso confiar nele. Ele vai me proteger."
Fechei os olhos com força. Tive que me controlar absurdamente para não estraçalhar o livro entre meus dedos; para que ele não virasse poeira devido a minha força excessiva.
Não havia desculpa no mundo para a minha atitude de tantos anos atrás. Bella havia estado em risco de morte. Por minha causa. E eu não estava lá para protegê-la.
Tudo bem, eu estava seguindo os rastros de Victória na América do Sul... Mas eu realmente acreditei que Victória viria atrás de mim. Que ela se vingaria de mim, já que eu havia matado James.
Mas ela foi atrás de Bella.
Reli as palavras diversas vezes. E cada vez era como se uma bala cravasse meu peito, ferindo-me mortalmente.
"...eu não signifiquei para Edward nem metade do que James significara para Victória... Tendo em vista que ele foi embora e me deixou aqui, completamente desprotegida e desamparada, sem sequer pensar duas vezes, sem sequer olhar para trás."
"Mas agora, finalmente, acho que poderei dormir mais tranqüila. Jacob está aqui. Meu porto seguro. Meu sol. Sei que posso confiar nele. Ele vai me proteger."
Eu havia causado tudo aquilo com a minha ausência, com a minha estúpida decisão de partir. Eu havia colocado Bella em perigo, deixado Bella a mercê de Laurent e Victória. Eu havia aproximado ela de Jacob. De um lobisomen.
Minha cabeça rodava. Eu havia ido embora para protegê-la de meu mundo... De um mundo ao qual ela não pertencia, um mundo do qual ela poderia sair muito machucada, isso na melhor das hipóteses... E Bella havia entrado em outro mundo tão ruim - ou pior - que o meu.
Mas eu devia saber, não devia? Ela era um verdadeiro imã para perigo. E Jacob Black era um quileute.
Eu já me corroia por dentro todos os dias de minha existência. Agora, mais do que nunca, tinha absoluta certeza de que não me perdoaria jamais por ter abandonado Bella.
Forcei-me a continuar lendo:
"18 de abril de 2006.
Eu estou um verdadeiro turbilhão de sentimentos hoje, muito mais do que o normal. Tantas, tantas coisas aconteceram! Eu estou tão... Confusa!
Primeiro de tudo... Eu estou envergonhada. Tremendamente envergonhada.
Hoje eu estava me sentindo só; desde que Jacob descobrira que eu era o alvo de Victória, ele e a matilha estavam à sua caça.
Quase não o vejo, e sua ausência me faz muito mal. Eu acostumei-me a tê-lo por perto. Jacob me aquece. Esquenta minha alma. Quando estou perto dele, é como se nada de ruim pudesse me acontecer. E, principalmente... Quando estou perto dele, esqueço de coisas que doem demais lembrar.
Sua ausência me fez perceber que há muito tempo eu não ouvia... Ele.
No mesmo instante em que meu cérebro percebeu isso, todo o meu corpo ansiou por aquela alucinação; por aqueles míseros segundos em que eu podia ouvir claramente a sua voz, estar o mais próximo possível DELE.
Não pensei duas vezes. Lembrei do penhasco em que Sam e os outros pulavam alegremente no outro dia e fui até lá. Só não podia imaginar que eu iria, literalmente, pular para a morte.
Consegui alcançar minha finalidade: ouvi a voz dele, senti-o próximo a mim mais uma vez, mesmo que nem de longe isso suprisse sua ausência em meu peito, em minha vida.O plano teria dado certo, não fosse a correnteza fortíssima que me impediu de emergir e respirar; que me lançou violentamente contra as pedras e me fez expirar todo o resquício de ar que existia em meus pulmões.
Minhas orelhas foram inundadas pela água estupidamente gelada, e foi exatamente nesse momento em que a voz dele ficou mais clara e nítida do que nunca. Concentrei-me no som de sua voz... E foi nesse instante que parei de lutar para sobreviver.
Afinal, porque eu lutaria, se estava tão feliz ali? Mesmo sentindo meus pulmões arderem, implorando por ar; mesmo com a sensação de milhões de facas penetrando meu corpo, devido a água terrivelmente gelada e cortante, eu estava FELIZ. Percebi que tinha me esquecido como era a verdadeira sensação de felicidade, até aquele momento. E isso tornava toda a idéia de morrer muito mais que suportável. Tornava tolerável. Tornava DESEJÁVEL.
A última coisa de que me lembro claramente de ter pensado foi: "adeus, eu te amo".
E então meus pulmões queimaram, desacostumados estavam com a presença de oxigênio dentro deles. E uma voz familiar e reconfortante surgiu ao longe, chamando-me de volta, pedindo, IMPLORANDO para que eu voltasse, para que eu sobrevivesse, para que eu ficasse com ele.
E foi o que fiz.
Abri meus olhos e Jacob estava ali; tinha a expressão desesperada, que se acalmou e transformou em felicidade extrema assim que percebeu que eu estava viva.
Voltei para a realidade - a dura e cruel realidade -, e percebi que não podia mais arriscar minha vida por uma alucinação idiota, vinda do meu subconsciente estúpido perdidamente apaixonado por uma idealização do amor perfeito, de um príncipe.
Porque Ele é um príncipe, disso eu não tenho dúvida alguma. Mas eu não sou nenhuma princesa, e não posso viver o resto dos meus dias acreditando que ele venha me acordar desse pesadelo com um beijo apaixonado.
Ele percebeu que eu não era digna dele, de seu amor, de sua dedicação. Está mais do que na hora de me conformar com isso.
A realidade que encontrei quando acordei era ainda pior do que a que eu havia deixado.
Harry morreu.
Enquanto eu agia por impulso, em um ato totalmente egoísta e impensado... Sue estava sofrendo, Charlie estava sofrendo... E Jacob... Jake estava sofrendo e estava ali, mais uma vez lutando para me proteger.
Nós fomos para a casa dele e apagamos; nem lembro o momento em que adormeci, só me lembro de achar confortável o som pesado de sua respiração, em um sono profundo e exausto por tantas noites mal dormidas, resultado das rondas atrás de Victória.Quando acordamos, a roupa já havia secado em meu próprio corpo e Jacob veio me trazer em casa.
E aí começa o segundo motivo da confusão de minhas idéias.
Jacob me deixou em casa e o inevitável, que já vinha sendo procrastinado há muito tempo, aconteceu.
Estávamos sozinhos em casa; Charlie estava ajudando com os preparativos do enterro de Harry. Fui até a pia da cozinha e, quando me virei, Jacob estava quase colado em mim.
Ele sussurroou meu nome, e o desespero bateu em meu peito quando ele inclinou a cabeça, os olhos fechados..."
Fechei o livro.
Eu é que tive que me controlar, fechar os olhos, acalmar minha respiração. Era demais para mim. Era muita dor sendo infringida a meu ser, já tão debilitado por tantos anos sem ter notícias de Bella.
Eu não era tolo; sabia que tudo aquilo era pura e simplesmente reflexo da minha atitude; sabia que, se eu não tivesse partido, se tivesse ficado lá com Bella, ela teria sido minha e de mais ninguém. Sabia que, se tivesse realizado o seu pedido... Se a tivesse transformado... Ela e eu viveríamos felizes por toda a eternidade.
A raiva consumia todo o meu ser. Como eu havia sido idiota! Havia entregue a mulher da minha vida, o único amor que eu tivera em toda a minha existência, para um ser que era o pior inimigo de minha espécie!
Eu tentava me acalmar, mas sabia que seria em vão. Reabri o livro e continuei com meu martírio:
"Ele sussurroou meu nome, e o desespero bateu em meu peito quando ele inclinou a cabeça, os olhos fechados. Porque eu não estava preparada; não havia tomado, ainda, minha decisão. Não havia tempo para pensar, e rejeitá-lo só serviria para afastá-lo de mim.
Eu o olhei. Pensei comigo mesma que ele não era o MEU Jacob... Mas podia ser, não podia? Eu o amava, de diversas maneiras mais que verdadeiras. Ele era meu conforto, meu porto seguro. Meu sol, como eu gostava de pensar. Naquele exato momento, eu preferi que ele me pertencesse, preferi entregar-me a encarar o medo de perdê-lo de vez.
Não seria uma traição. Afinal, a quem eu estaria traindo, aliás? Só a mim mesma, se não me entregasse ao homem que estava ali e que me amava verdadeiramente.
Sem mais tempo para raciocinar, fechei meus olhos e, no segundo seguinte, os lábios carnudos e quentes de Jacob encontraram os meus. Suas mãos seguraram minha cintura, firmemente, e me puxaram para mais perto dele.
E então, o inesperado aconteceu.
Contra toda a razão, meus lábios começaram a mover-se junto com os dele de uma forma estranha e perturbadora, até então completamente desconhecida para mim.Porque com Jacob eu não precisava ter CUIDADO. Não precisava me preocupar em me controlar com passar dos limites. E Jacob, certamente, também não foi nem um pouco cuidadoso comigo.
Inesperadamente, meu corpo agindo antes mesmo que eu pudesse mandar, meus dedos entrelaçaram-se em seu pescoço, e era eu quem o puxava para mais perto. Jacob estava em toda a parte. O calor do sol penetrou minha pele, minhas pálpebras, e eu não conseguia pensar, ver ou sentir nada que não fosse ele.
JACOB.
A pequena parte do meu cérebro, muito pequena mesmo, que manteve a sanidade, não parava de gritar perguntas e mais perguntas para mim. Por que diabos eu não estava impedindo aquilo? Por que eu não conseguia impedir, não conseguia encontrar dentro de mim o DESEJO de PARAR?
Significava que eu estava gostando? Que eu não queria que ele parasse? Que só de pensar em sentir a ausência de seu corpo grande e quente eu preferia morrer? Que minhas mãos percorriam e reconheciam o corpo dele, agarrando-se a seus músculos perfeitos, e gostavam de sentir que seus ombros eram largos e fortes? Significava que eu achava que as mãos dele estavam me apertando forte demais contra seu corpo quente, e no entanto não era apertado demais para mim?
Não precisei me meio segundo para saber de todas aquelas respostas.
Jacob era mais, muito mais que apenas meu melhor amigo.
Assim que minha mente clareou-se, um caminho inteiramente novo e diferente se expandiu à minha frente. Como se eu estivesse olhando através dos olhos de Jacob, pude ver a vida que poderíamos ter juntos... Uma vida que eu jamais poderia sonhar em ter ao lado de Edward.
Vi os anos passando, e realmente significando muitas coisas enquanto passavam, mudando meu corpo. Podia ver Jacob ao meu lado, o imenso lobo castanho-avermelhado que eu tanto amava, sempre presente, tão protetor, a postos sempre que eu precisasse dele. Vi os filhos que poderíamos ter, correndo de nós a caminho para uma floresta familiar, e todos nós sorríamos, felizes com a vida perfeita e tranqüila que levávamos.
Mas, infelizmente, misturado a todos esses sentimentos maravilhosos, no fundo, bem no íntimo de meu ser, a rachadura em meu peito latejava constantemente, fazendo meu cérebro processar a falta que ELE me fazia, a cada pulsação fazendo o nome - tão dolorido de lembrar - percorrer todo o meu organismo.
Edward. Edward. Edward."
Era tanta coisa passando pela minha cabeça naquele momento, que nem eu mesmo estava conseguindo entender direito.
Primeiro... Bella havia quase morrido. De verdade.
Ela ia entregar-se à morte, sem lutar, pura e simplesmente para parar de sofrer. Para parar de sentir a dor que eu causara.
Senti um imenso sentimento de gratidão por Jacob. Se não fosse ele... Se ele não estivesse no lugar certo, na hora certa... Se não tivesse tirado Bella do mar, da correnteza... Nesse momento ela estaria morta, e nada mais faria nenhum sentido.
Mas eu também tinha sentimentos. E não podia negar que, apesar da imensa gratidão que eu sentia... Eu estava com vontade de matá-lo!
Ler todas aquelas palavras que Bella escrevera; saber todas as emoções e todo o sentimento que Bella sentira quando ele a beijara... Tenho certeza que ingerir um copo de óleo fervendo seria muito mais agradável do que aquela sensação.
Eu sentia um aperto tão imenso em meu peito, que agradeci por não precisar respirar. Até mesmo esse simples gesto tornava-se quase impraticável.
Olhei para o pequeno diário de capa preta em minhas mãos. Quantas coisas aconteceram! Eu não estava nem na metade, e já sabia que iria sofrer veementemente antes que chegasse ao final. Pensei em desistir. De que adiantaria aquilo tudo, afinal? Nada. O tempo não voltaria atrás. Eu não poderia desfazer minha estupidez. Bella não seria minha novamente. Não poderia me perdoar.
Mas a ânsia por saber, por conhecer a história da vida dela, foi mais forte. Minha dor não importava. Meus sentimentos não importavam. Só Bella importava, então.
Reabri o livro, pulando algumas folhas.
"Junho de 2006.
O dia de hoje foi simplesmente perfeito. Já havia me esquecido de como era sentir-me assim... FELIZ.
Sim, finalmente posso afirmar que estou feliz.
O medo da volta de Victória ainda é grande, assim como o buraco em meu peito, que não está totalmente cicatrizado... E acho que jamais ficará. Mas a vida vai seguindo em frente e, dentre todos os males, tem tomado um rumo bastante agradável, para minha total surpresa.
Passamos o dia em La Push. O clima estava agradável e a cada dia mais gosto de ficar por lá.
A amizade entre mim e o resto da "matilha" vem crescendo mais e mais a cada dia. Sam é uma ótima pessoa, e um ótimo líder também. Emily é meiga e gentil. Seth é engraçado e divertido, assim como Quil e Embry.
No final da tarde acendemos uma pequena fogueira e comemos marshmallows em volta do fogo, Paul portando um violão e tocando desajeitadamente. Olhando em volta, ali, sob a luz da lua e da fogueira de fogo azul, meu coração estava aquecido. Eu os amava. A todos.
Principalmente a Jake. Meu Jake.
Ele me flargou olhando para ele e sorriu. Pegou minha mão e começamos a caminhar, o casaco dele em minhas costas, grande demais para meu tamanho. Caminhamos vários metros sem falar nada. Não era preciso. Somente o calor que emanava dele e a sensação de seu corpo perto do meu já preenchia o espaço existente entre nós.
Então ele parou de repente, eu o imitando e olhando para ele.
Conheço Jacob tão bem que sei decifrar em seus gestos, em seu olhar, quando ele quer me falar alguma coisa. E eu não estava errada.
Jacob disse que estar comigo era a melhor coisa que poderia ter ocorrido na vida dele. Que cada minuto que passava ao meu lado era como se o mundo inteiro parasse e só existisse nós dois. E disse que queria me namorar oficialmente.
Mais uma vez meu cérebro processou tudo tão depressa!
Eu não sabia se queria namorar Jacob... A única pessoa que eu já namorara... Fora ELE. E tudo acabou de uma forma tão horrível, tão traumatizante para mim... Eu sei que Jacob me prometeu, milhares de vezes, que com ele tudo será diferente; que ele nunca irá embora, que nunca irá me magoar. Mas ELE também havia me prometido tudo isso, não é mesmo? Havia me prometido que ficaríamos juntos para sempre. E no entanto...
Espantei para longe essas lembranças, mas o receio de que elas fossem me acompanhar eternamente permaneceu.
Eu amo Jacob. Disso eu não tenho dúvida. Cada dia mais um pouco, e de diversas formas diferentes.
Quais eram minhas opções, então?
Aceitar o pedido, e continuar vivendo levemente ao lado dele; continuar a viver um dia de cada vez, sem pressão, apenas duas pessoas que se gostam e que se querem bem, que se FAZEM bem. Ou renegar o pedido e então ter que conviver com um Jacob rechaçado, triste e magoado comigo.
Isso se ele não se afastasse, claro.
Por tudo isso, e também porque uma enorme parte do meu coração estava altamente voltada para tal, eu aceitei. O imenso sorriso de Jacob, o sorriso que eu tanto amo e que aquece minha alma, apareceu em seu rosto, clareando o fim daquela tarde. Os braços dele apertaram minha cintura e me puxaram para mais perto, e os lábios, agora já tão familiares, me beijaram apaixonadamente.
Eu estou FELIZ."
Meus sentimentos eram uma verdadeira montanha russa. Era tanta divergência, tanta discrepância, que nem eu mesmo estava conseguindo entendê-los, coordená-los.
Eu estava arrasado. Por ter deixado Bella. Por ela ter sofrido por minha causa. Por ter sido tão idiota.
Estava feliz. Por Bella ter encontrado uma forma de superar. De me esquecer. De continuar vivendo.
E estava fervendo de raiva. Raiva de Jacob Black. Raiva de mim mesmo, pois, no fundo, eu também o agradecia por reparar o estrago e a bagunça que eu havia feito na vida de Bella.
Quando reabri o livro, respirava profundamente, rezando para que conseguisse retomar a consciência centrada que havia se esvaído.
"Julho de 2006.
Se eu pudesse escolher, agora, nesse exato momento... Eu escolheria a MORTE.
Mal estou com ânimo para escrever aqui... Mas estou me forçando, como um modo de livrar meus pensamentos de toda a dor, de toda a angústia que estou sentindo.
Eu pensei que já havia sofrido tudo o que alguém fosse capaz de sofrer. Pensei que conhecia todas as formas de dor; que nada, nunca mais, iria me machucar profundamente. Mas eu já devia saber que tudo sempre pode piorar, não é mesmo?
A vida estava boa demais. Tranqüila demais. Eu até havia me esquecido que estava jurada de morte por Victória. Mas ela não havia se esquecido de mim.
Estávamos em mais uma tarde descontraída em La Push, quando Sam chegou completamente atordoado, dizendo que uma quantidade significativa de vampiros estava em Forks.
A primeira coisa que me veio a cabeça, foi Charlie. Respirei aliviada ao lembrar que ele estava pescando com Billy.
A matilha se reuniu muito rápido. Jacob olhava para mim durante todo o tempo em que eles conversavam. Victória estava ali por MINHA causa. Era a MIM que ela queria. Tive tanta raiva... Se Alice estivesse ali, teríamos visto quando ela chegaria. Agora ela não estava, nenhum DELES estava, e eu estava colocando a vida de tantas pessoas amadas em perigo.
MERDA!
Quando todos se prepararam para partir, Sam foi até Emily, que o abraçou, e Jacob veio até mim.
O beijo que Jacob me deu foi ao mesmo tempo maravilhoso e angustiante. Porque foi ávido, cheio de desejo, cheio de paixão, mas ao mesmo tempo foi dolorido, temeroso e sofrido. Com apenas um beijo, Jacob me fez perceber o quanto os próximos minutos seriam tensos e perigosos.
E MORTAIS.
Eu pedi, implorei para ir com eles. Nada seria mais justo! Se tudo desse errado, se as forças reunidas por Victória fossem muitas... Eu me entregaria. Mas Jacob... Jacob não me ouviu.
Emily e eu fomos levadas até a casa dela, e Sam ordenou que Embry e Paul ficassem conosco, transformados, para que pudessem avisar caso alguma coisa desse errado.
Edward tinha razão. Se algum perigo, qualquer um, me detectasse... Ele viria atrás de mim.
Bem... antes fosse atrás de mim.
Porque estávamos lá, nós três, e Embry detectou Victória. TARDE DEMAIS.
Victória chegou acompanhada de um recém criado que ela chamava de Riley. Ela só tinha olhos para mim. Veio em minha direção com um ódio no olhar tão profundo que me fez sentir uma dor física e quase dilacerante.
Embry não pensou duas vezes. O enorme e amado lobo investiu contra Victória, sem preocupar-se que ela fosse forte, ágil ou extremamente veloz. Em um impulso impensado, fui em direção ao embate dos dois. Ou melhor, tentei ir. As mãos firmes de Emily me impediram, e apesar de ter utilizado de toda a força para me livrar delas, foi em vão.
As lágrimas começaram a rolar desenfreadamente por meu rosto. Logo a imagem ficou embaçada. Por isso não pude ver perfeitamente o momento em que Victória feriu Embry. Não pude ver perfeitamente Embry caindo ao chão, machucado, sofrendo... derrotado.
Mas pude OUVIR.
Pude ouvir seu uivo de dor; seu lamento alto e profundo ressoou em meus ouvidos e olhei para Paul, que travava uma batalha com Riley, agora em desvantagem ao ver seu irmão ferido.Caí de joelhos, minhas mãos agarrando-se à terra desesperadamente, Emily chorando atrás de mim.
Então o meu olhar encontrou o de Victória.
Ela sorriu. Um sorriso triunfante e cheio de glória, de alguém que finalmente alcançou o objetivo mais importante de sua existência: me matar.
Não sei em que momento o resto da matilha foi avisada do ataque que estávamos sofrendo... Provavelmente assim que Embry percebeu a chegada de Victória. Só sei que quando Victória já estava próxima demais de mim Jacob apareceu, e num pulo a derrubou no chão. E a luta recomeçou.
Paul havia conseguido acabar com Riley. Agora ele, Seth e Quil estavam ao redor de Embry, que permanecia caído. IMÓVEL.
Sam aproximou-se de Jacob e Victória, e ouvi um gemido de medo escapando de Emily, que me abraçou. Agora, mais do que nunca, éramos duas mulheres que partilhavam a mesma dor.
Eles investiam duro para cima dela, mas Victória era muito veloz. Era apenas um vulto aos meus olhos humanos, e por isso foi muito difícil de entender quando Jacob soltou um ganido agudo. Um ganido de DOR.
Ele caiu.
Naquele momento, nada mais me importou. Nem Victoria. Nem as mãos de Emily. Minha merda de vida. NADA. Meu olhos só focalizavam o imenso lobo castanho-avermelhado caído no chão, e foi exatamente para lá que me dirigi.
Caí sentada ao seu lado; abracei seu corpo enorme e quente, minhas roupas ficando instantaneamente sujas com seu sangue.Jacob me olhava. Eu me via refletida em seus olhos e, dessa vez, foi a minha vez de pedir para que ele ficasse comigo, de implorar para que ele fosse forte e que não me deixasse, do mesmo modo como ele fizera comigo no dia do penhasco, meses atrás.
Ouvi um baque ensurdecedor, um grito alto e cortante. E então silêncio.Olhei para trás. Victória estava caída, Sam e Quil tratavam de lhe desmembrar.
O resto todo passou muito depressa.
Alguém, acredito que Emily, tirou-me de perto de Jacob e me levou para sua casa.
Agora eu estou aqui. Meu coração está completamente destroçado e dessa vez REALMENTE não sei se haverá saída para mim.
Embry morreu. Em meu lugar, ele se foi para sempre. Jacob, o MEU Jake, meu sol...Está gravemente ferido, Billy disse que praticamente todos os ossos do lado direito foram quebrados. Se pelo menos Carlisle estivesse aqui...
Não consigo mais escrever no momento. Eu só quero morrer."
Guardei o diário no envelope que Isabella havia me entregado. Eu não podia mais ler nem uma única palavra. Pelo menos, não por hora. Era difícil demais, doloroso demais para mim.
Antes eu precisava fazer outra coisa. Algo que eu já devia ter feito há muito tempo; para ser exato, há cinqüenta anos. Não havia mais como evitar. Não podia mais procrastinar.
Eu precisava encontrar Bella.
Constatar que ela estava viva. Que estava segura. Que estava feliz. Com meus próprios olhos.
Nem que fosse apenas mais uma vez.
CAPITULO IV – Além das fronteiras.
"Edward... O que houve com você? Você está... ACABADO!"
Jasper absorveu tudo o que eu estava sentindo no momento em que passei pela porta. Mas eu não o respondi, nem parei sob os olhares de todos os ali presentes; fui direto pra meu quarto no segundo andar.
"Edward... Por favor, deixe-me entrar?" - Alice já estava decidia a entrar de qualquer forma: eu via em seus pensamentos. Por isso achei melhor ser educado e assenti. " O que houve? Você demorou tanto, estávamos todos preocupados e..."
- Eu vou à
- Edward... – dessa vez Alice falou alto, como se dessa forma pudesse concretizar e me convencer de sua opinião. – Eu realmente, realmente não acredito que seja uma boa idéia. Já se passou muito tempo, tempo demais e...
- Você não faz idéia de tudo o que Bella passou em minha ausência, Alice! – Mas uma vez eu a interrompi, minha voz agora mais elevada do que o necessário. – Ela quase se afogou pulando de um penhasco! Victória foi atrás dela! Embry morreu no embate! Eu preciso vê-la!
- Você sabe que ela sobreviveu – Alice não levantou a voz, mas falou sério e grave. – Sabe que ela sobreviveu e casou-se, seguiu com a vida, teve filhos, uma neta. Não vejo porque essa aflição, então.
Apoiei os cotovelos sobre meus joelhos e afundei o rosto em minhas mãos. Alice tinha razão. Eu sabia de tudo isso. Mas mesmo assim eu necessitava ver Bella, como se somente dessa forma tudo viesse a se tornar real, e não apenas uma alucinação doentia e psicótica.
- Eu já decidi Alice. Vou até
- Você não pode. Sabe que o tratado ainda é válido, que não podemos ultrapassar a fronteira quileute. Se fizer isso eles poderão - e irão - acabar com você!
- Se eu conseguir adiar minha morte para depois de eu ter visto Bella, mesmo que de longe... Então morrerei feliz. Porque continuar nessa maldita existência, depois de tudo o que li, de tudo o que eu soube, e não vê-la... Isso é pior que a morte para mim, Alice.
- Bella deixou tudo escrito, é isso?
Assenti com a cabeça e lhe passei o envelope pardo, que Alice analisou em silêncio. Permanecemos ainda em silêncio enquanto Alice lia os diários, e eu via em sua expressão o reflexo de todo o horror e desespero pelo qual eu mesmo havia passado momentos atrás.
"Agora eu entendo melhor como se sente. É realmente agoniante ler tudo narrado por Bella, com tantos detalhes... Mas ainda acho uma péssima idéia você ir à
- Pode até ser. Mas irei de qualquer jeito - olhei para Alice e vi desapontamento em sua expressão. - Alice... Eu vivi durante cinco décadas pensando que Bella acordava todos os dias ao lado de alguém que jamais a amaria como eu. Mas mesmo assim, rezando para que ela estivesse feliz e completa, pois dessa forma tudo estaria bem, a minha própria infelicidade não significaria absolutamente nada. Mas depois de tudo o que li...
Não consegui mais falar nada. Coloquei-me de pé e peguei uma pequena mala de couro, colocando ali dentro apenas o essencial para uma pessoa comum – cuecas, meias, três mudas de roupas, sapatos. Estava achando o quarto silencioso demais sem os pensamentos de reprimenda de Alice e, quando olhei para trás, ela não estava mais ali.
Peguei meu celular e liguei para o último número discado.
- Alô.
- Olá, Isabella.
- Edward. Oi - ficamos em silêncio por alguns instantes. - Olha, eu não tenho muito tempo agora, Sean é muito ciumento... Podemos nos falar mais tarde? Tem algum número que eu possa te ligar?
- Isabella, na verdade eu... Eu estou ligando para dizer que estou indo hoje mesmo para
- O... O QUÊ? – A voz dela saiu alterada pelo aparelho. – Não, Edward! Eu te disse onde minha vó estava porque sabia que você não poderia ir até lá e...
- Eu não poderia ir caso não quisesse quebrar o tratado. Mas isso realmente já não me importa mais, Isabella.
Mais uma vez fez-se silêncio na linha, e eu podia perceber que ela lutava para manter o controle.
- Edward. Você não tem o direito de fazer isso. Está sendo a pessoa mais egoísta do universo com essa decisão.
Eu sabia que ela tinha razão, sob muitos aspectos. Mas, novamente, eu não me importava mais.
- Eu sei disso, e estou ligando exatamente para lhe informar de minha decisão e para lhe pedir desculpas. Eu não queria ir até lá sem que você soubesse. Não queria trair sua confiança.
- Eu não vou conseguir lhe convencer do contrário, não é?
- Não.
- Bem... Então a única coisa que posso fazer é te desejar boa sorte. Apesar de saber que será
Ela desligou antes mesmo que eu pudesse responder.
Desci e encontrei todos em pé, próximos a escada.
- Alice já passou o relatório? - Indaguei. - Estão todos a par da situação?
É claro que se tratava de uma pergunta retórica. Afinal, eu não precisava de respostas. Podia ler na mente de cada um deles que sim, estavam todos à par dos acontecimentos, e também que absolutamente ninguém aprovava minha decisão. Nem mesmo Carlisle. Nem Esme.
Ninguém.
- Edward querido... – Esme falou em voz alta para que todos pudessem participar e deu um passo em minha direção. – Há certos momentos da vida em que temos que saber parar. Temos que aceitar que as coisas não aconteceram de acordo com a nossa vontade. E acredito piamente de que esse seja um desses momentos para você.
- Eu entendo perfeitamente seu ponto de vista, Esme, e posso dizer honestamente que até chego a concordar com ele. Mas eu simplesmente não consigo me conter. É mais forte do que eu! Se eu não for até
- Ah, ótimo! – Foi Rosalie quem falou, o humor sarcástico mais uma vez imperando em seu tom frio. – Você realmente tem um péssimo timer, não é Edward? Seu relógio interno com certeza tem algum defeito. Pois isso você devia ter sentido há cinqüenta anos, quando nos fez sair às pressas de Forks e ficar vagando por aí, desesperados sem notícias suas. Você devia ter tido vontade de ver Bella - e descobrir o estrago que fez na vida dela - hà cinco décadas atrás, não agora. Porque, agora, de que adianta? Você não poderá consertar nada mesmo, não depois de tanto tempo!
Eu sabia que todos estavam tristes com Rosalie por ela ter sido tão ríspida comigo. Mas ao mesmo tempo me surpreendi ao detectar que eles concordavam com ela.
Todos concordavam com Rose.
- Eu realmente sinto muito por ter que decepcionar vocês todos mais uma vez... – falei, descendo o último degrau. – Mas eu o farei. Porque irei para
No mesmo instante vi os pensamentos de todos vagarem.
Carlisle pensava em que desculpa usaria no hospital para justificar sua ausência. Esme pensava em que cartão usaria para comprar todas as passagens. Alice na mala que faria, e o que diria quando encontrasse Bella. Jasper pensava numa estratégia parara derrotar os lobisomens, em um eventual e provável embate, assim como Emmet. Rosalie só pensava em como tudo aquilo era absurdo e uma perda de energia total.
- Não. Vocês não irão comigo, irei sozinho. É assim que deve ser. Não colocarei ninguém em perigo.
- Edward... Me surpreende saber que passou pela sua cabeça que nós deixaríamos você cruzar a fronteira quileute sozinho... Nós somos uma família, esqueceu? – A expressão de Carlisle era triste.
- Não Carlisle. Claro que não esqueci. Só me dói saber que mais uma vez estarei colocando todos vocês em risco por uma questão pessoal, só isso.
- O problema de um é um problema de todos nós querido... - Esme sorria pesarosamente.
- Eu sei. Mais uma vez obrigado e... Me desculpem. Sei que estou sendo egocêntrico e egoísta, mas eu realmente preciso fazer isso.
No segundo seguinte todos haviam sumido de minha vista. Só Carlisle permaneceu ali.
"Você já sabe o que vai dizer à Bella quando a encontrar?"
- Honestamente não... – Era verdade. A idéia de encontrar Bella depois de tanto tempo, depois de ter lutado durante décadas com meu coração e com meus sentimentos era tão surreal...
"Pois eu acho que você devia pensar nisso com calma. Você sabe que Bella sempre se preocupou com a idade, com a passagem do tempo. Sinceramente, não sei se ela se sentirá bem com esse encontro."
Eu sabia que Carlisle estava se referindo ao fato de Bella estar atualmente com 68 anos. Imagino como deve ter sido a passagem do tempo para ela; como ela deve estar perfeita, madura e realizada, enquanto eu estava fadado a existir eternamente congelado em um corpo de 17 anos.
- Prefiro deixar as coisas acontecerem naturalmente, Carlisle... Na verdade, primeiro rezo para que Bella queira me ver. Pois entenderei perfeitamente se ela não quiser.
- Estamos prontos!
Olhei para trás e todos estavam a postos, aguardando por mim, Esme com a mala dela e de Carlisle, uma em cada mão.
- Ótimo. Vamos acabar logo com esse martírio, então – falei e passei pela porta, com todos atrás de mim.
Esme fretou um jatinho particular, algo que era comum de fazermos sempre que decidíamos viajar em cima da hora.
Tendo em vista o avanço da tecnologia nos últimos cinqüenta anos, o tempo de uma viagem aérea foi reduzido pela metade, e fiquei aliviado em pensar que, em pouco tempo, estaríamos chegando em Seattle.
- Alice...
Alice abriu os olhos e virou o rosto para mim, o corredor do avião entre nós.
- Eu sei o que você quer que eu faça, Edward... E sei, também, que não dará certo. Posso ver.
- Por favor? - Insisti. - Não levará um minuto.
Eu queria que Alice tentasse visualizar como seria nosso encontro. Ela fechou os olhos, concentrou-se e, segundos depois, sua expressão era frustrada.
- Não - disse. - Nada.
Voltei a recostar-me na poltrona, frustrado também.
"Sabe Edward..." – olhei para ela. "– Tenho que admitir que, há alguns anos atrás, eu quebrei minha promessa e tentei visualizar Bella."
Meu olhar para Alice deve ter sido mortal, pois ela encolheu-se no assento.
"Eu sei, sei que você me proibiu veementemente de fazer isso... Mas entenda que você não era o único que a amava. Eu amava... Amo Bella demais, também. Sempre quis saber se ela estava bem."
Respirei fundo. Na situação em que estávamos no momento, brigar com Alice por isso era no mínimo contraditório.
- E...? – Perguntei. – O que você viu?
"Nada. Eu não consegui visualizar absolutamente NADA. Na época estranhei, mas como Bella sempre teve os pensamentos bloqueados para você, pensei que algo poderia ter mudado com os anos, fazendo com que ela também bloqueasse minhas visões. Mas não foi isso, Edward. Depois que li os diários, só vejo uma explicação plausível."
- E qual é?
"Os lobisomens. Acredito que seja um meio de defesa da espécie, já que eles são nossos inimigos mortais. Acho que não consigo visualizar Bella porque ela está junto deles."
Assenti com a cabeça.
- Faz sentido para mim.
Algum tempo depois já havíamos aterrizado em Seattle e alugamos dois carros para chegarmos em Forks a fim de nos estabelecermos.
A cidade continuava praticamente a mesma. Claro que houveram mudanças: novos hotéis, a escola tinha um prédio totalmente novo, bem como existiam diversas outras construções recentes espalhadas pela cidade. Porém, no todo, Forks continuava igual. Verde por toda parte: nos troncos das árvores, nas pedras, pelo chão, na floresta ao redor.
Imediatamente uma dor crescente surgiu em meu peito. A saudade que eu sentia de Bella durante todo esse tempo se intensificou imensamente quando voltei ao lugar onde a conheci; quando passei pelos lugares pelos quais passeávamos juntos.
- Onde iremos ficar? – Perguntei para Carlisle. Não entendi quando li a imagem que veio em sua mente. Olhei para frente e Carlisle olhava para Esme. - Carlisle? – Insisti, querendo uma explicação.
- Nós mantivemos a casa, Edward. Achamos que um dia você poderia querer fazer as pazes com seu passado... e nada melhor do que aquela casa para reavivar suas lembranças. Boas e ruins.
Não consegui falar. Carlisle havia mantido a casa por tantos anos? E sem me avisar?
- Desculpe por isso, Edward. É que eu sabia, de alguma forma, que precisaríamos dela um dia – foi Esme quem falou agora, olhando para mim. – E eu tinha razão, não é mesmo?
Concordei silenciosamente e olhei pela janela. A estrada de terra tão familiar passava por nós, a caminho da casa em que vivemos há tantos anos atrás. O caminho não estava visível, um sinal claro de que tal trajeto era pouco usado; mas Carlisle seguia com facilidade, a rota mais que gravada em sua memória.
O carro parou em frente a casa, seguido pelo carro que trazia Emmet, Rosalie, Alice e Jasper.
- Parece que foi ontem que estivemos aqui pela última vez – Esme falou, parada ao meu lado.
Sim. Parecia. Era como entrar em uma máquina do tempo. Uma pena que o tempo realmente não tivesse voltado, para que eu pudesse fazer tudo diferente.
- Vamos entrar? – Alice já estava na porta, olhando para nós.
- Não. Eu não posso mais adiar. Vou agora mesmo à
- Edward... Está de noite. Não é uma boa idéia ir lá agora – Carlisle pousou a mão em meu ombro direito. – Deixe para ir amanhã.
Olhei em volta e todos assentiram calados. Resolvi acatar o pedido de Carlisle; eu já havia trazido transtornos demais por uma única noite.
Logo que passamos pela porta, uma onda de nostalgia arrebatou a todos.
Não sei por quanto tempo ficamos simplesmente ali, parados, observando tudo ao nosso redor. Todos os móveis e detalhes que traziam consigo milhões e milhões de lembranças, tão nítidas e reais que pareciam ter acontecido no dia anterior.
Para mim, era ainda cinco vezes mais forte.
Porque, além das minhas próprias lembranças, eu ainda visualizava os pensamentos de todos os outros, e sentia as emoções que tais lembranças lhe causavam.
- Bem... Pode parecer meio clichê, mas é exatamente como me sinto: lar doce lar - Esme sussurrou, enquanto envolvia a cintura de Carlisle com os braços. Alice assentiu, abraçando o pescoço de Jasper. Emmet envolveu Rose em um abraço de urso.
Mas uma vez e para sempre, eu estava sozinho.
Olhei ao redor e o buraco existente em meu peito se intensificou. Ver o piano em sua plataforma baixa, lembrar de Bella sentada ao meu lado, me vendo tocar a canção que eu fizera para ela...
- Bem, vou tomar um banho, então – falei, subindo as escadas. – E quem sabe aproveito para matar as saudades de minha coleção de cd's.
Eu sabia que estava mentindo. Iria voltar a minha inebriante leitura.
***
Como todo o resto, meu quarto permanecia intocado. O sofá de couro preto, a janela de vidro que dava na floresta...
Sentei-me e peguei o envelope pardo, retirando um diário e abrindo a dura capa preta.
"Julho de 2006.
Eu nunca imaginei que pudesse rezar tanto, conversar tanto com Deus como eu fiz - e tenho feito - nos últimos dias.
O enterro de Embry foi o momento mais triste e difícil pelo qual já passei em toda a minha vida.
Bem, tirando um.
Eu usara o único vestido preto que tinha, e colocara um casaco pesado por cima; usava um óculos de sol, apesar do tempo completamente nublado, para acalmar meus olhos, que estavam terrivelmente inchados e ardidos de tanto chorar compulsivamente.
Charlie estava ao meu lado direito e Billy do meu lado esquerdo.
Olhei ao redor e fiquei arrasada ao ver tanta tristeza nos olhos daqueles quileutes que eu já havia aprendido a amar tão veementemente. Tanta dor em tão pouco tempo. Primeiro Harry. Agora Embry.
E por minha causa.
Olhei para o lado oposto ao meu.
Sam, Emily, Seth, Leah, Paul e Quil estavam ali, Emily com uma cesta revestida de pétalas de rosas brancas, esperando o momento certo para jogá-las. Mas o vazio era notório. Faltavam duas figuras essenciais naquela imagem. Faltava Embry. Faltava Jacob.
No mesmo instante senti meu peito doer e abracei meu próprio corpo, fechando o casaco em volta de mim.
Jacob não podia estar presente no enterro do melhor amigo porque ainda estava se convalescendo dos graves ferimentos que sofrera no embate contra Victória. Apesar de seu corpo responder muito mais rápido do que o de um humano comum, as lesões ainda eram bastante graves e dolorosas.
O resto da triste tarde eu passei
Passei o dia com Jacob, apesar de termos ficado mais tempo em silêncio do que qualquer outra coisa. Jacob estava triste com a perda do amigo, e eu também. Mas saber que tínhamos um ao outro era o que nos restava e nos aliviava em pensar que a vida continuava.
Sim. Eu tenho a Jacob e ele tem a mim, e isso no momento me é mais do que suficiente."
Não parei para processar aquelas últimas palavras. Eu já estava magoado demais. Simplesmente virei a página, sem pensar.
"Julho de 2006
Estou muito, MUITO feliz hoje. Encontrei com Jacob e o quadro de ele evoluiu MUITO! Já está andando sozinho, apesar de ainda reclamar de um pouco de dor... Mas isso é o de menos! O mais importante é que, graças a Deus, ele está a salvo!
Ontem passei o dia com ele
E, pelo modo com que ele investiu em mim durante toda a madrugada, creio que ele já esteja realmente totalmente curado.
P.S: tenho que admitir que foi uma luta árdua resistir ao calor de Jake... Mas sinceramente não sei se estou pronta para isso, não ainda. Ainda não me sinto completamente curada. Mas, ao mesmo tempo... O que estou esperando, afinal? Jake me ama, eu também o amo, cada dia mais e mais, e está claro que o nosso futuro é ficarmos juntos. Sinceramente, às vezes nem eu me entendo."
Não saberia como descrever a dor de observar, a cada página que eu ultrapassava, o amor de Bella por Jacob crescendo gradativamente, e as citações sobre mim diminuírem na mesma proporção. Eu sabia que era um sentimento egoísta; ocorre que, infelizmente, era exatamente como eu me sentia, e dizer o contrário seria mentira.
E ainda tinha o fator de que Jacob Black não era o homem certo para Bella! Se fosse para ela conviver diariamente com o perigo, vivendo em um mundo ao qual ela não pertencia, eu teria ficado lá e a protegido de toda essa loucura em que ela se enfiou!
Olhei pela parede de vidro do meu quarto; já estava quase amanhecendo. Assim que o sol nascesse eu iria à
Enquanto isso não acontecia, voltei a minha leitura, passando algumas páginas.
"13 de Setembro de 2006
O dia foi PERFEITO!
Sim, até eu mesma estou surpresa... Nunca fui muito ligada em datas festivas e, por isso mesmo, meu aniversário nunca foi algo com o que eu me importasse demais.
Além disso, eu estava morrendo de medo dessa data.
Medo de passar o dia inteiro lembrando de como essa mesma data foi um desastre total no ano anterior... Lembrando de como, nessa mesma data, o incidente que desencadeou a mudança do meu destino voltasse a me assombrar (eu sendo tola de novo, tentando me convencer de que aquele incidente tolo mudou meu destino, e não os sentimentos – ou a FALTA deles – DELE com relação a mim).
Enfim... Não é sobre isso que eu quero escrever.
Não hoje. E espero que nem NUNCA MAIS. Pois hoje eu tomei uma decisão que irá mudar minha vida. Ou melhor... Duas decisões.
Meu dia já começou incomum desde o início. Esperava encontrar Charlie todo sem jeito, com algum presente de aniversário mal embrulhado ou coisa do tipo. Mas a casa estava totalmente silenciosa e, quando desci, um tanto quanto receosa, deparei-me com Jacob sentado à mesa da cozinha, envolto a um maravilhoso café da manhã, diversos tipos de rosas e balões de várias cores.
Não agüentei e sorri. Vê-lo ali, enorme e desajeitado, com aquele sorriso que iluminava todo o ambiente... Sinceramente não imaginei maneira melhor de começar o dia!
Quando desci o último degrau diversas pessoas saíram de seus esconderijos e gritaram "surpresa!". Estavam todos os meus queridos amigos ali: Charlie, Billy, Sam, Emily, Leah, Seth, quil, Ângela, Ben, Mike e Jéssica.
Como era de se esperar, a manhã passou rápida e feliz – todos rimos e jogamos conversa fora.
Quando todos saíram - inclusive Charlie, que foi pescar com Billy – Jacob me falou que tinha uma surpresa; eu não podia imaginar o que era; afinal, eu acabara de ganhar um café da manhã especial e memorável.
Jacob me entregou um envelope grande, com meu nome na frente. Eu sabia de onde vinha, nem precisava olhar o remetente. Fiquei com medo de abrir; o conteúdo daquele envelope poderia mudar o rumo de minha vida. Então pedi que ele abrisse e lesse em voz alta; meu coração falhou uma batida quando Jake leu que a Universidade de Berkeley teria muito prazer em me aceitar como um de seus novos calouros.
Senti uma onda de felicidade percorrer meu corpo de uma forma que há muito tempo não sentia. Minha reação foi sair correndo e pular no colo de Jake, minhas pernas envolvendo firmemente sua cintura, meus lábios encontrando os dele. Senti que ele ficou surpreso num primeiro momento, mas logo voltou a si e correspondeu ao meu entusiasmo de forma tão empolgada quanto eu.
Eu havia pensado tantas e tantas vezes em como seria a nossa primeira vez; havia pensado no lugar, na música, no ambiente... Mas a verdade é que, naquele exato momento, meu corpo ansiava pelo corpo de Jacob de uma forma até então desconhecida... Eu simplesmente precisava tê-lo por completo, assim como precisava ser dele por completo, também.
Já estávamos sentados no sofá e eu estava sem blusa, quando ele me interrompeu e me pegou carinhosamente no colo, subindo as escadas comigo. Nosso olhar não se desviou um segundo sequer; eu estava tremendo de nervoso, e posso jurar que Jake também estava: ele era virgem tanto quanto eu.
Jake me colocou deitada na cama e no mesmo momento tirei os tênis, e, quando ia desabotoar meus jeans, percebi que ele estava parado, imóvel, ajoelhado no chão ao meu lado. Mais uma vez naquela manhã meu coração falhou uma batida, assim que percebi o que Jake estava prestes a fazer.
Ou melhor... Percebi que eu estava FELIZ pelo que Jacob estava prestes a fazer!
Jake sorriu timidamente, o que era difícil de se ver - logo ele, com seu jeito desinibido de ser. Pegou minha mão e tirou do bolso de trás dos jeans uma pequena caixa de veludo vermelha. Falou, de forma simples e perfeita, que eu era a mulher da vida dele, e que ele não tinha a menor dúvida disso, e que jamais teria. Que queria passar o resto de seus dias ao meu lado; que queria que eu fosse a mãe dos seus filhos, e que queria criá-los comigo em um lar repleto de amor e harmonia.
Senti meus olhos queimarem, da mesma forma que sinto agora quando escrevo essas palavras. É tão bom saber que Jacob me ama dessa forma incondicional... Tão bom saber que eu sou capaz de ser realmente amada por alguém tão bom como Jacob!
Aceitei, claro. Apesar de ser contra casamentos – um legado de Renée, tenho que admitir! – eu sabia que não havia outro final para minha história com Jake... Então, não havia porque evitar o destino.
O resultado disso tudo foi a felicidade transbordando em nossos corações. Foi a primeira vez – de ambos – mais perfeita e encantadora que poderíamos desejar. Jake foi calmo, carinhoso e gentil, ao mesmo tempo que másculo, apaixonante e viciante.
Não sei quando será a data oficial da cerimônia, e nós também não estamos com pressa. Vou para Berkeley e me formarei sem pressa – sei que Jake vai estar comigo em cada desafio de minha vida, assim como estarei com ele. Porque, a partir de hoje e mais do que nunca, seremos um só.
P.S: Me irrita admitir que fico imaginando como seria se meu casamento não fosse com Jake... Se Ele tivesse aceitado meu amor, ainda que eu fosse ridiculamente humana para ele... Será que seríamos felizes? Será que eu seria de sua espécie e nossa eternidade seria repleta de amor e cumplicidade?
Por quê, POR QUÊ eu sempre tenho que pensar nessas coisas? Por quê eu não consigo simplesmente esquecer, deletar tudo de minha memória, do mesmo jeito que Ele fez?"
Chega. Para mim bastava. Pelo menos por hora.
Me levantei e desci as escadas num segundo. Quando cheguei até o carro, Alice estava encostada na porta.
- Eu vou com você. E não adianta nem tentar discutir, pois isso está fora de pauta. Está decidido.
Não respondi. Estava com pressa demais até mesmo para isso. Entrei no carro e ela em seguida sentou-se no banco do carona, e segundos depois estávamos na estrada em direção à First Beach,
Assim como Forks,
A mesma praia de águas verdes e areia escura; os mesmos troncos envelhecidos espalhados ao longo; as mesmas casas simples e encantadoras dos quileutes.
Perguntamos para um senhor que passva onde ficava a residência de Isabella Swan Black, e ele nos indicou.
Estacionei perto da praia. Milhões de recordações passaram pela minha cabeça. Olhei ao longo... É... Apesar de ter se passado meio século,
Desci do carro, fechando a porta atrás de mim, mas parei encostado na capô. Simplesmente não tinha coragem de seguir adiante. Olhei para Alice, que me encorajou com um sinal de cabeça, ainda dentro do carro.
A casa era simples, mas bonita e harmoniosa. Pintada de um azul claro reconfortante, as janelas brancas faziam parecer uma imensa casa de bonecas.
Inspirei fundo e senti a brisa que vinha do mar adentrar em meu organismo, o leve cheiro de maresia penetrar em meus pulmões. Eu sabia que era arriscado estar ali. Sabia que, mesmo depois de anos, o tratado ainda valia, mas definitivamente não me importava nem um pouco.
Eu necessitava vê-la. Precisava encontrar Bella.
Tomei coragem - posso afirmar que foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida - e comecei a andar em direção à casa.
- Pode parar aí. Nem pense em dar mais um único passo, Edward Cullen.
Não precisei nem olhar para trás. Mesmo depois de 50 anos, eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar.
Jacob Black.
- Jacob – falei sem me virar.
- Você ouviu o que eu disse. Nem. Mais. Um. Passo!
Ouvi Alice saindo do carro e parando ao meu lado.
- Bom dia, Jacob... – Alice falou, a voz amigável. - Nós viemos em paz e...
- Não me interessa, sanguessuga. Vocês causaram dor e sofrimento demais no passado. Não são bem vindos aqui.
Finalmente decidi virar-me para encará-lo. Ficamos algum tempo assim, parados, encarando e analisando um ao outro. Na verdade, eu é que analisava Jacob. Afinal, minha aparência era exatamente igual à de cinqüenta anos atrás.
Mas a de Jacob não.
Ele continuava enorme, maior que eu alguns centímetros. Continuava esbelto, o contorno dos músculos aparecendo sob a camisa branca. Mas as rugas em seu rosto queimado de sol demonstravam as marcas que o tempo havia deixado; os cabelos, que antes eram tremendamente negros, agora eram salpicados de alguns fios prateados.
Ele estava belo, e havia envelhecido. Jacob voltou a normalidade depois que nossa espécie deixou a cidade, então.
- Vocês ouviram o que eu disse – Jacob finalmente quebrou o silêncio, dando um passo em nossa direção. – Vão embora, eu não vou avisar novamente.
- PAI!
Olhei para o lado, seguindo a voz que chamava por Jacob e que saía de dentro da casa.
- Alice! - Ele respondeu, sem afastar-se de mim. - Volte para dentro, agora!
"Alice? O nome da filha deles é... Alice? Bella colocou MEU nome em sua filha?"- os pensamentos de Alice berravam para mim. Eu não podia negar que também estava surpreso.
- Me obedeça, Alice! Volte para dentro e só saia quando eu mandar!
- Mas Bella está te chamando e...
- JÁ PARA DENTRO!
A mulher, de seus trinta anos, olhou para nós uma última vez e entrou, fechando a porta atrás de si.
- Jacob, como Alice disse, nós viemos em paz e...
- Eu vou falar pela última vez, e é bom que vocês entendam de uma vez por todas: vocês NÃO são bem vindos aqui
"E agora Edward? O que você vai querer fazer?"
Olhei para Alice. Eu não tinha muito tempo para decidir. Fechei os olhos para me concentrar na mente de Jacob.
Uma busca na floresta. Bella nos braços de Sam Uley. Bella triste, quase
- Está tudo bem por aqui? - Abri os olhos e Sam Uley estava parado ao lado de Jacob, uma mão em seu ombro. - Cullen – ele me cumprimentou secamente com um aceno de cabeça, que eu retribuí. – Creio que você já esteja de saída.
Respirei fundo.
- Eu gostaria de ver Bella.
Jacob deu um passo a frente; o olhar dele era mortal em minha direção, e por isso Alice segurou meu braço em estado de defesa.
- Isso está fora de questão, Edward. Você nunca mais verá Bella. Não durante toda a sua maldita existência.
- Cullen... – Foi Sam quem falou, a voz tentando acalmar os ânimos. – Isabella ligou. Minha neta. Ela nos avisou que você estava a caminho.
- Ah... E por falar nisso... – Jacob chegou ainda mais próximo a mim, ficando a menos de um palmo de distância. – Se eu sequer imaginar que você aproximou-se da minha neta novamente... Eu juro que vou atrás de você até o quinto dos infernos, Cullen. Acabo com você e com toda a sua maldita família. Entendeu?
Por um segundo eu imaginei as possibilidades que tinha.
Poderia enfrentar Jacob; era notório que ele não se transformava há muito tempo, e que o tempo havia voltado a valer para ele há muitos anos, assim como para Sam. Eu chegaria até a casa de Bella em menos de um segundo, e então arrancaria ela de lá a força, se fosse necessário.
Sim, eu poderia fazer isso. Seria rápido e meu problema estaria resolvido.
Por outro lado... Quais seriam as conseqüências?
Eu poderia ferir gravemente Jacob, ou Sam. Poderia ferir a filha de Bella, ao invadir a casa sem permissão. Poderia ferir a própria Bella. E, então, eu só pioraria as coisas. Ferindo um deles, eu magoaria mais uma vez - e ainda mais, Bella. E isso era algo a que eu não podia sequer cogitar.
"Edward, pelo amor de Deus, decida LOGO! Mais uma faísca e tudo em volta explode!"
- Tudo bem, estamos de saída. - Anuí. - Como Alice disse, nós viemos em paz.
Jacob levantou o queixo, encarando-me de cima, duvidando do que eu dizia. Estava fácil demais, ele pensava.
- Ótimo. E, para o bem de vocês, não venham mais aqui. Não são bem vindos.
Não respondi. Ao invés disso, engoli meu orgulho para o bem de todos, entrei no carro com Alice em meu encalço e saí.
Os primeiros minutos se passaram, e nem eu nem Alice tivemos ânimo para expressar uma única palavra. O pensamento de Alice era só a imagem da filha de Bella e Jacob, e o nome. O nome igual ao seu, inacreditavelmente uma clara homenagem de Bella à pessoa a quem ela sempre afirmou amar profundamente, como a uma irmã.
- Eu também estou redondamente surpreso, Alice – falei, sem tirar os olhos da direção, apesar de não precisar disso; os anos não apagaram aquele caminho de minha mente.
"Edward... O nome da filha dela... Meu Deus..."
Enfim olhei para Alice, que tinha a expressão completamente tomada de angústia: por ter sido pega de surpresa, por saber que o amor de Bella era ainda maior do que ela imaginava, por saber que, quando acatara a minha decisão, tantos anos atrás, abandonara a amiga mais fiel que já tivera.
As emoções dela foram transmitidas para mim através de seus pensamentos, como se já não me bastasse a minha própria tristeza, a minha própria angústia. Senti meu peito se fechar e por um momento esqueci de respirava; por uma fração de segundo parecia que meu organismo necessitava novamente de oxigênio para continuar sobrevivendo e eu parei o carro bruscamente, me colocando para fora assim que ele freou.
- Edward? – Alice saiu e veio atrás de mim, que havia me encostado com as mãos no teto. – O que foi?
Abri os olhos e olhei para ela.
- Foi que eu estou morrendo de vontade de voltar lá naquela maldita praia, arrebentar a cara de Jacob Black e ver Bella à força, Alice! É isso que foi! – Ela cruzou os braços, encostada no carro ao meu lado. – Mas e então? Eu faço essa loucura, corro risco de ferir mais alguém... Para quê? Para, no fim, Bella não querer me ver – com toda a razão! – e ficar ainda mais magoada comigo? Para eu acabar de destruir a vida que ela lutou para construir durante os últimos cinqüenta anos? Isso é justo? Hã?
"Eu sinto demais, Edward... Por tudo isso. Gostaria tanto de poder voltar no tempo..."
- Eu também gostaria de poder voltar no tempo.. – falei, exteriorizando os pensamentos de Alice. – Mas isso é impossível, não é? Então vou tentar parar de estragar o futuro, é o melhor que eu faço.
"Vamos indo, então... Carlisle e os outros já devem estar preocupados, a ponto de vir atrás de nós a qualquer momento..."
Alice tinha razão. Eu tinha que parar de arrumar problemas, já havia passado dos limites.
- Ok. Mas eu vou a pé, preciso correr, pensar. Te encontro lá, certo?
"Tudo bem. Eu levo o carro, pode deixar."
Eu me virei e nem olhei para trás, para saber se Alice já havia entrado no carro. Eu só precisava sair dali.
Precisava falar com Isabella.
Havia ultrapassado apenas alguns metros quando parei e peguei o celular.
- Al...
- Isabella.– mal deixei ela terminar a saudação. – Olá.
- Edward. Já chegou
- Sim, e fui muito bem recepcionado por seus avôs.
Eu não só não queria, como não tinha o direito de ser ríspido com Isabella, mas estava difícil me controlar.
- Eu imaginei que você fosse ficar irritado comigo. E quer saber? Não me importo. Fiz isso porque não acho que você tenha o direito de ver minha avó agora. Já te disse isso antes.
- Eu só precisava vê-la, saber se ela está bem, conversar co...
- Já te disse que AGORA, FINALMENTE, ela está bem. Isso vai ter que servir para você.
Engoli seco e expirei o ar, apertando o canto dos olhos. Aquela discussão não daria em nada.
- Eu... Eu vi sua mãe.
Fez-se silêncio na linha por alguns segundos.
- Hum.
- Ela se chama Alice. Eu tenho que admitir que fiquei muito surpreso... E Alice também.
- Alice? Alice está aí com você?
- Sim. Eu vim com toda a minha família - mais uma vez silêncio. - Isabella? – Chamei, para confirmar se ela ainda estava na linha.
- Eu... Eu estou voltando para
Pensei rapidamente no que ela me pedira. Não gostava da idéia, mas isso poderia ser bom, na medida em que, depois, ela poderia acabar concordando em me ajudar a encontrar Bella.
Eu mesmo senti nojo de mim.
- Ok. Mas te apresento somente à Alice.
- Certo – passei a mão pelos cabelos, já arrependido do que havia combinado. – E Edward?
- Sim?
- Fique longe de
- Ok – falei. "Eu vou tentar..."
Essas últimas palavras ecoaram somente em meu pensamento, antes de desligar o telefone.
FIM DO POV DE EDWARD
POV DE ALICE
Edward foi embora antes que eu conseguisse falar mais alguma coisa. Antes que eu conseguisse decidir e contar para ele o que eu estava prestes a fazer.
Diminui a velocidade assim que cheguei na reserva. Olhei para fora e vi as mesmas casas que eu havia acabado de deixar para trás. E então uma mulher passou por mim, mexendo distraidamente em um celular.
Imediatamente parei o carro e desci.
- Er... Olá... Alice? – Minha voz saiu fraca e falhada, tamanho era meu nervosismo e insegurança.
Era difícil para mim lidar com um futuro que eu não conseguia ver.
- Sim? – A mulher virou-se e me encarou, o sorriso desfazendo-se no mesmo instante.
Olhando melhor - com calma e de perto - vi como ela era bela. Uma combinação perfeita dos genes de Bella e Jacob, que resultou em uma beleza exótica e suave.
- Você voltou! – Ela exclamou, como que para convencer a si mesma de que era verdade.
- Sim, eu... Precisava falar com você. Me chamo...
- Alice – ela completou minha frase. – Eu sei. Jacob me falou que era você depois que saíram de lá.
- Oh... eu me sinto... Muito, extremamente honrada com essa homenagem que Bella fez para mim! Eu...
Parei de falar. Meus olhos ardiam estupidamente, assim como minha garganta. Se eu fosse capaz de chorar, meu rosto estaria encharcado.
- Você foi corajosa em voltar – Alice falou, cruzando os braços. – Não são bem vindos aqui. Ele não é bem vindo aqui.
- Eu sei... Mas... Será que poderíamos conversar um pouco? Se não for lhe incomodar? - Vi que ela estava receosa. - Por favor? – Utilizei um pouco do que Bella costumava chamar de "deslumbramento". Mas era por uma boa causa, não era?
- Um pouco - minha xará finalmente respondeu. - Não tenho muito tempo.
- Ótimo. Muito, muito obrigada!
- Venha comigo.
Ela virou-se e eu a segui. Nós fomos andando
- Vamos para First Beach... – ela falou sem me olhar, abraçando o próprio corpo em resposta a um vento frio que batia levemente. – Com esse tempo lá é quase deserto e mais tranqüilo... É melhor que ninguém veja você.
Assenti com a cabeça e continuamos andando.
- Eu nunca havia visto meu pai tão nervoso como hoje... – pela primeira vez ela virou o rosto em minha direção, e eu correspondi, nossos olhos se encontrando. – Eu realmente fiquei chocada, meu pai sempre é tão... Tranqüilo.
- Jacob tem os motivos dele... – uma ruga surgiu entre os olhos de Alice. – E eu não posso questioná-lo.
E era verdade, eu realmente não podia.
Eu amava Edward acima de tudo, da mesma forma que amava demais Bella, a quem sempre guardei em meu coração como a irmã que nunca tive. Exatamente por isso, seria simplesmente maravilhoso que eles ficassem juntos eternamente, uma forma de manter em meu convívio duas pessoas mais que especiais.
Por isso eu havia insistido tanto, há mais de cinqüenta anos atrás, para que Edward transformasse Bella e a fizesse parte integral de nossa família. Afinal, todos nós já sentíamos dessa forma.
Infelizmente isso não ocorreu.
Todos os dias seguintes ao aniversário de 18 anos de Bella foram muito difíceis.
Depois que Edward tomou a fatídica decisão de ir embora de Forks, para poder afastar Bella do perigo que nós éramos... Ele não foi o único que passou a conviver com um sofrimento imenso e diário.
Eu também sofri demais, e três vezes.
Primeiro, porque eu não apenas não queria ir, como não concordava com aquela decisão.
Segundo, porque Edward entrou em depressão com a ausência de Bella e afastou-se de todos nós, indo embora sem dar notícias, e eu senti demais sua falta. Ele e eu sempre fomos muito unidos, e sua ausência significava que uma parte muito importante de mim também havia me deixado.
E terceiro porque, com tudo isso, Jasper passou a lamentar-se diariamente por ser culpado de toda aquela situação. Apesar de todos nós dizermos que havia sido uma fatalidade, ele simplesmente não se conformava, e posso afirmar com toda a certeza que até hoje ainda não se conforma.
Eu havia ficado todos os dias dos últimos cinqüenta anos imaginando como Bella havia seguido sua vida, que rumo tinha tomado. Eu sabia o quanto ela amava e idolatrava Edward, e por isso tinha certeza de que aquele abandono havia sido terrivelmente duro para ela.
Exatamente por isso eu não podia questionar a raiva que Jacob Black estava sentindo agora. Em verdade, no fundo, no íntimo do meu ser, eu queria agradecer à ele.
Agradecer por ter cuidado de Bella e lhe dado força quando eu não estava aqui para isso. Por ter curado, ou ao menos se esforçado ao máximo para curar, a ferida que nós abrimos em seu peito, a qual - eu tenho certeza - não foi pequena. Por ter lhe dado uma vida feliz, com amor e esperança; com filhos, netos e tranqüilidade. E também por ter sido altruísta ao ponto de, apesar de não gostar nem um pouco de mim, ter deixado Bella colocar o meu nome em sua filha.
Eu havia ficado imersa em meus pensamentos e, quando dei por mim, já estávamos sozinhas na areia escura da First Beach. O tempo estava completamente fechado e batia um vento gelado e cortante, que esvoaçava os nossos cabelos.
Alice se sentou em um tronco seco e esbranquiçado de árvore. Eu a imitei.
- Por quê você voltou? – Ela perguntou, encarando a praia que batia à nossa frente, o barulho do mar tranqüilizante e estarrecedor.
- Voltei porque precisava falar com você... – falei, sinceramente. – Porque, desde o momento
- Sim, esse foi o motivo para você ter voltado agora aqui
Ah, isso. Dei de ombros e deixei que eles caíssem, vencida.
- Isso nem eu sei bem como te responder, Alice... Eu realmente acreditava que isso nunca fosse acontecer. No início eu ainda tinha esperanças, mas os anos foram passando e ela foi se evaporando, sabe?
Alice assentiu com a cabeça em concordância.
- Quanto você sabe da história? – Perguntei, não apenas para matar minha curiosidade, mas também para saber até onde eu podia ir, até onde eu podia falar e o quanto ela iria entender do que eu estava falando.
- Eu sei toda a história, Alice. Tendo em vista tudo o que aconteceu depois que vocês foram embora há cinquenta anos atrás... E tendo em vista, também, que ninguém sabia se vocês iriam voltar a qualquer momento... Jacob e Sam decidiram que a melhor coisa era deixar todos a par dos acontecimentos.
Eu não me surpreendi com isso. Na verdade, já esperava.
- Hum... Então você sabe eu e minha família somos "vegetarianos"? – Alice assentiu com a cabeça. – E que alguns de nós temos dons especiais... Eu, por exemplo, consigo visualizar o futuro quando alguém toma uma decisão?
Mais uma vez Alice balançou a cabeça afirmativamente.
- Pois é... Quando Edward resolveu ir embora e deixar sua... mãe... Ele me proibiu de visualizar o futuro de Bella, porque estava convicto de que nós éramos muito perigosos para ela. Eu obedeci, e hoje posso te dizer que foi a coisa mais estúpida que podia ter feito. Então, com o passar dos anos – que para nós passa diferente, já que eles não significam muito – eu decidi quebrar as regras e visualizar, mesmo sem permissão. E simplesmente não consegui. Não entendia o motivo, achava que Bella havia criado um bloqueio involuntário ou que, talvez, fossem os anos que passei sem praticar vê-la... Mas agora eu percebo que não é isso. Acredito que seja porque Bella uniu-se à Jacob, que é de um clã inimigo do nosso... E que essa seja uma forma de proteção, entende?
Alice ouvia com atenção tudo o que eu dizia.
- Sim, entendo. E isso quer dizer que você não consegue ver minha mãe hoje. E que isso deve estar te corroendo.
Eu não pude deixar de sorrir. Afinal, era a mais pura verdade.
- Minha mãe teve uma vida muito boa, sabe? – Ela disse, olhando para o horizonte mais uma vez, como se estivesse buscando na memória lembranças de seu passado. – Não só ela, como toda a nossa família. Eu tenho um irmão, que se chama Embry... Em homenagem à um amigo muito querido dos meus pais. Ele mora em Seattle com a mulher e a filha. Enfim... – Alice voltou a me olhar, a expressão tranqüila. – Eu tive a melhor infância que uma criança pode desejar. Os pais mais atenciosos e carinhosos do universo. Um lar repleto de amor.
Vi que ela ficou com um semblante triste de repente.
- O que houve? – Perguntei. Tive vontade de pegar em sua mão, de dar-lhe um abraço amigo e sincero, mas me detive – não sabia como ela iria reagir.
- Eu não entendia porque, às vezes, eu encontrava minha mãe triste, muitas vezes até chorando. Eu perguntava o que era e ela desconversava... Mas depois que meu pai e Sam contaram tudo eu entendi.
Ela fez uma pausa e eu não insisti; deixei que ela utilizasse todo o tempo que precisasse para continuar a falar.
- Eu sei que meus pais se amam. Sei o quão companheiros eles são, afinal presenciei - e presencio - de perto a vida deles. Mas sou mulher e também sei que, na vida, a gente só tem um único amor verdadeiro. Uma única pessoa por quem a gente se apaixona e sabe que é ela. Alguém com quem você deseja, desde o primeiro momento, poder passar o resto da vida e dividir todos os seus dias. E eu sei que, para o meu pai, essa pessoa é, e sempre foi, minha mãe.
Foi a minha vez de concordar em silêncio.
- E também sei que, para minha mãe... Essa pessoa foi Edward.
Senti minhas sobrancelhas arquearem-se involuntariamente; essa jamais seria uma afirmação que eu esperasse.
- Por quê você diz isso? – Perguntei.
Afinal, entendo que Jacob e Sam tivessem contado sobre nós para os filhos e tudo o mais... Mas daí a imaginar Jacob Black contando para os filhos sobre a linda história de amor que Bella havia vivido com Edward... Já era surreal demais!
A não ser que Alice também soubesse sobre os diários.
- Eu vi a expressão de dor quando meu pai e Sam se reuniram para nos contar essa história... E desde aquele dia acordei diversas vezes no meio da noite com os gritos da minha mãe, que nunca mais teve um sono tranquilo. Então digamos que uni uma coisa à outra.
Meu Deus. O que nós havíamos feito à Bella?
- É por isso que eu também não concordo que vocês voltem agora, como se nada tivesse acontecido, e queiram vê-la. Porque, diferentemente do que você acabou de afirmar, que os anos passam diferente para vocês... Para nós eles são lentos, demorados. Cinqüenta anos não são cinco dias... Ainda mais para quem guarda algum tipo de mágoa no coração.
- Eu entendo, Alice... Você pode até não acreditar, mas eu realmente entendo.
Virei-me para frente e ela me acompanhou.
Não sei por quanto tempo fiquei ali, sentada de frente para o mar, com o vento batendo em minha pele fria e algumas gotículas de água salgada salpicando minha face.
- Eu realmente gostei de você – não virei para olhar a mulher de mesmo nome que eu, e sabia que ela também não me encarava. – Não sei se tem a ver com uma ligação estranha devido ao nosso nome... Mas gostei. E queria muito levar você até Bella... Acho que ela ficaria feliz, que isso a faria bem... Mas não posso. Edward teria acesso à sua mente, e definitivamente não acho que ele tenha o direito de vê-la, mesmo que só dessa forma. Me desculpe.
Lenta e receosamente, levei a minha mão até a de Alice, que estava pousada em seu colo, e a segurei. Senti o corpo dela enrijecer de primeira, mas logo em seguida relaxar. Ficamos assim por um longo tempo, apenas duas mulheres de nome igual que nutriam dentro do peito uma única verdadeira coisa em comum.
O amor por Isabella.
FIM DO POV DE ALICE
Capítulo V - Apresentações
POV DE EDWARD
Cheguei em casa e entrei pela imensa janela de vidro do meu quarto, que havia deixado aberta. Eu sabia que eles iriam ouvir minha chegada e que sentiriam meu cheiro, e que isso seria o suficiente para que ninguém fosse atrás de mim em La Push.
E sabia, também, que ter agido dessa forma demnostrava claramente que eu queria ficar sozinho.
Joguei-me no sofá preto de couro e tapei os olhos com o braço.
Era impressionante como minha vida mudara em menos de dois dias. Há pouco tempo eu me segurava para não procurar saber nada sobre Bella... E agora aqui estava eu, desesperado, ansiando por notícias dela, por vê-la.
Ah, como eu queria vê-la! Como eu queria sentir mais uma vez aquele aroma singular, que tantas e tantas vezes quase me levou à beira da insanidade! Aquele aroma que tinha tudo para ser o fim de Bella, e que acabou sendo o início do único amor da minha existência!
Respirei fundo e peguei, no chão ao meu lado, o diário que eu estava lendo antes de sair. Antes de abrir, rezei para que nada mais tivesse o poder de fazer-me desejar à morte, como da última vez.
"Novembro de 2006
Odeio ficar tanto tempo sem passar aqui para escrever. Conferi e vi que a última vez foi no meu aniversário.
Nossa!
É que minha vida anda TÃO atribulada... Mal estou tendo tempo de respirar.
Passei os últimos dois meses entre o final do colégio e a matricula na universidade, sem falar das comemorações de todas as notícias boas: meu ingresso, meu noivado...
Mas hoje senti NECESSIDADE de vir aqui!
Porque, quando não consigo escrever, sinto como se fosse explodir... Preciso desabafar as coisas que REALMENTE passam dentro de mim, e essa é a melhor forma que encontro.Quando estou sem tempo crio coragem e até conto algumas coisas para Ang... Mas ainda assim é diferente. E bem, essa é uma das coisas que eu não tenho coragem de falar em voz alta. Porque parece que, quando a gente exterioriza em voz alta, elas se tornam REAIS. E eu estou com muito medo de que seja real.
Hoje eu fui ao banheiro escovar os dentes e, quando abri a gaveta, me deparei com meu pacote de absorventes. Fechado. E eu o comprei há mais de dois meses!
Senti meu coração acelerar desenfreadamente. Fiz as contas e era isso mesmo. Após o meu aniversário eu devia ter ficado menstruada, uns quinze dias depois. E isso não aconteceu.
Até agora.
E no momento encontro-me aqui, completamente tensa, com um exame de farmácia em cima da mesa, me encarando. Eu não posso estar grávida... Posso? Merda, qual a probabilidade de alguém engravidar na primeira vez?
Ora, só mesmo a pessoa mais azarada do universo. EU!
Argh, vou logo fazer esse exame antes que eu enfarte!!!
***
Já estou aqui sentada nem sei há quanto tempo, mas sei que não é pouco. É que minhas mãos tremem tanto que mal consigo segurar a caneta.
Eu estou grávida.
GRÁVIDA!!!
O que vai acontecer agora? Como eu vou contar à Charlie, a Renée? Como eu vou contar a Jake? Como irei para faculdade, agora?
Rá. Simples. Eu não irei, não é?
Como a vida é louca, como nos prega peças! Logo eu, que sempre disse à ELE que não ligava para filhos, que não me importava em abrir mão dessa experiência... Bem, era verdade. Por ELE eu não me importaria com absolutamente nada. Só em tê-lo ao meu lado.
Argh, ótimo momento para me lembrar dessas coisas idiotas. Devem ser os hormônios...
O mais engraçado é que olho para minha barriga, coloco a minha mão em cima de meu ventre... E me sinto BEM. Eu estou FELIZ. Como isso é possível?
Preciso contar a Jake. Preciso saber se essa felicidade espontânea aparecerá em seu rosto quando eu acabar de contar a notícia; se aquele sorriso largo e caloroso me envolverá tranqüilizantemente.
Se bem que eu realmente não tenho muitas dúvidas quanto a isso."
A cada página que folheava, era mais uma surpresa que eu vivenciava. Era mais uma flecha sendo enfiada em meu peito. Minha vontade era fechar aquele maldito diário. Era voltar no tempo, para a paz da ignorância, para continuar a viver minha existência medíocre sem ânimo ou esperança.
Mas e então? Se antes meus dias já passavam terrivelmente lentos e arrastados; se cada minuto me segurando para não voltar, me esforçando para sequer não pensar em Bella, eram estupidamente longos e infinitos... Agora, conhecendo um pouco de sua história, sabendo tudo pelo que ela havia passado e sofrido... Era terminantemente impossível simplesmente virar as costas e ignorar! E não saber como tudo havia se desenrolado, que rumo a história havia tomado.
Bella havia engravidado com apenas 19 anos!
Fechei os punhos com força, os músculos se esticando ao máximo.
Jacob Black era um imbecil. Ele é quem devia ler esses diários, para saber o quanto Bella estava feliz em ir para a faculdade, o quanto estava empolgada e cheia de planos. Planos que Jacob destruiu com sua irresponsabilidade infantil.
Lembro-me perfeitamente das inúmeras discussões que tive com Bella; de como eu me negava a transformá-la, primeiro porque não queria destruir sua vida, roubar sua alma, condená-la à uma eternidade sem esperança. E segundo porque Bella era vibrante, cheia de luz e energia; porque eu realmente desejava que ela vivesse tudo o que a vida tinha a lhe oferecer, sem qualquer restrição. Que se formasse, fosse para a faculdade, fizesse amigos... Enfim, que aproveitasse ao máximo todas as sensações e emoções existentes somente na vida de um humano comum.
E então ela simplesmente se entrega a Jacob e engravida, com apenas 19 anos, tantas experiências positivas se esvaindo pelo ralo!
O barulho de um carro se aproximando me distraiu de meus pensamentos. Agucei minha audição.
"Sei que você está me ouvindo, Edward. Estou subindo."
Alice? Só agora? Quanto tempo havia se passado?
Pouco tempo depois, Alice passou pela porta do meu quarto e sentou-se como uma pluma ao meu lado.
"Pode perguntar. Sei que está louco para saber onde eu estava."
A mente de Alice era só nós dois, ali, naquele momento.
- Onde você estava?
Então, como em um passe de mágica, a mente de Alice desvendou-se e eu pude ver.
Pude vê-la na First beach, em La Push. Sentada em um tronco de árvore envelhecido, a imensidão do mar à sua frente, o aroma da maresia inundando minha mente. E um outro aroma. Suave e adocicado, que emanava da pessoa ao seu lado. Alice. A filha de Bella.
Olhei para ela, pasmo.
- Você voltou lá? – Alice assentiu com a cabeça. – Como assim, Alice? Você não devia... É perigoso!
- É claro que eu devia. Tanto que fui e não me arrependo, de forma alguma. Alice é uma pessoa fantástica e especial, conversar com ela foi um momento único. Ela me lembra muito Bella, Edward... Em muitos aspectos.
Expirei o ar e observei Alice. Seu olhar estava triste, a fisionomia abalada.
- O que exatamente você está me impedindo de saber, Alice? Vejo que luta para não me mostrar algo. Você viu Bella?
- Não.
- Então o quê?
Alice suspirou fundo.
- Acho que é melhor você desistir de encontrar Bella, Edward. Honestamente, acho que seu esforço será em vão. Nós nunca fomos bem vindos em La Push, e isso não é mistério para ninguém. Mas depois do que houve... Bem, você não é bem vindo de verdade.
Eu não era bem vindo? O que diabos ela queria dizer com aquilo?
Não precisei perguntar.
Minha irmã mostrou-me a conversa que tivera com Alice Swan. Deixou-me ver o quanto Alice vira Bella sofrendo, por minha causa. E me mostrou, também, que tinha vontade de favorecer um encontro de Bella entre as duas, e que só não o fazia por saber que eu acabaria vendo Bella através de seus pensamentos.
E isso, definitivamente, ela não permitiria.
- Se eu fosse você... Parava de ler esses diários também, Edward. Isso tudo, essa escavação do passado... Não pode - e não vai - te fazer bem. Escolhas foram tomadas. O destino foi traçado. A sorte foi lançada e a vida seguiu seu rumo. Não há como voltar atrás e consertar o que passou. O jeito é se conformar e seguir adiante. E agradecer.
Eu havia mergulhado o rosto em minhas mãos enquanto Alice falava, mas levantei assim que ela pronunciou aquela última afirmativa.
- Agradecer? Pelo quê? Por ter sido um verdadeiro imbecil? Por ter destruído uma história de amor que era perfeita e que tinha tudo, absolutamente tudo, para ser eterna? Por saber que terei que conviver o resto de minha existência com essa angústia, com esse arrependimento corroendo meu organismo feito ácido?
Alice balançava a cabeça negativamente.
- Então, honestamente, não vejo pelo quê devo agradecer, Alice.
- Deve agradecer por Bella ter encontrado alguém que a ajudou a se reerguer após a sua partida; alguém que a amou verdadeiramente e incondicionalmente, sem preocupar-se com seu passado e, inclusive, aceitando que o passado convivesse em sua casa e em sua vida, todos os dias. Que aceitou ver o nome de sua filha, o bem mais precioso do mundo, ser uma homenagem a alguém que o fazia mal. Tudo isso pela felicidade de Bella. Jacob amou e ama Bella tanto quanto você, Edward. E, se Bella teve uma vida feliz e saudável... Você deve isso à ele. Porque, se não fosse por ele, Bella não teria passado nem dos 18 anos. Ela teria morrido afogada depois de ter pulado daquele penhasco.
Não consegui responder tais afirmações. Primeiro porque eu sabia, no íntimo do meu ser, que Alice tinha absoluta razão em cada palavra que pronunciara.
Segundo, porque admitir isso doía. Doía demais.
- Por isso, Edward... Me escuta. Vamos deixar isso do jeito que está. Vamos voltar para Londres, ou para qualquer outro lugar em que você se sinta bem.
- Acontece que eu não me sinto bem em lugar algum, Alice. Só aqui. Só perto de Bella.
Alice deixou os ombros caírem, visivelmente derrotada por minhas palavras.
"Eu não concordo... Mas estou aqui para te ajudar. Certo? Conte comigo."
- Certo. E obrigado.
Alice levantou-se, me beijou amavelmente o rosto e saiu.
Pensei em tudo o que ela dissera. Pesei as palavras e as conseqüências.
Sem hesitar, reabri o diário.
"Novembro de 2006.
É impressionante como, às vezes, nós nos enganamos com as pessoas.
Isso pode ser bom ou ruim.
É ruim quando nos entregamos e confiamos plenamente em alguém: confiamos nosso sentimento, nosso destino... Nossa VIDA... E esse alguém simplesmente, sem maiores porquês e explicações, nos vira as costas. Então nós perdemos o chão; a sensação é de ser engolida por um imenso buraco negro, que te suga para o centro sem qualquer oportunidade de defesa.
Uma grande decepção pode ser mais violenta e dolorosa, mais marcante e profunda, do que se pode imaginar.
O lado bom é quando você acredita que alguém terá certo tipo de reação; que alguém irá agir de certa maneira à determinada notícia e então, maravilhosamente, essa pessoa te surpreende. E reage mil, milhões de vezes melhor!
Quando contei a Jacob sobre minha inesperada gravidez, foi como se o mundo tivesse acabado ao nosso redor. Como se, de um segundo para o outro, nada mais existisse na face da terra além de nós: eu, ele e nosso bebê.
No mesmo instante ele começou a fazer planos – de adiantarmos o casamento, onde iríamos morar, qual seriam os possíveis nomes.
Então de repente ele parou e me encarou, segurando meu rosto entre as mãos e dizendo que aquilo não era impedimento algum para mim. Que, se eu quisesse, ele me ajudaria, mudando-se comigo para perto da faculdade, para que eu pudesse estudar normalmente.
Claro, meus olhos encheram-se de lágrimas com aquela afirmação.
Mas honestamente, apesar de ter ficado feliz com tamanho altruísmo... Eu não me importo. Não me importo em não ir para a faculdade, no próximo semestre ou nunca. A única coisa que eu quero é tudo o que Jake, de forma simples e sincera, me descreveu: uma festa de casamento simples e repleta de amigos; uma casa em La Push, onde criaremos nosso bebê; e um casamento cheio de amor e harmonia.
Sim. Charlie tinha razão quando me dissera, há um tempo atrás, que nós devemos aprender a amar o é bom para nós. E Jake não é somente BOM. Ele é perfeito para mim!
Mas quem realmente me surpreendeu foi Charlie. E Renée.
Pensei que fosse levar um sermão infinito sobre como eu deveria ter me protegido, e como eu fora irresponsável. Ao invés disso... Charlie chorou feito criança e abraçou Jake, que praticamente o engoliu do alto de seu 1,92 M. E Renée... Bem, Renée já está providenciando o enxoval – em tons de amarelo e verde, pois não sabemos o sexo, ainda – e os preparativos para o casamento.
E então todos me perguntam: você está FELIZ?
Sinceramente, depois de tudo o que vivi, acredito que felicidade seja um estado de espírito muito ingrato... Porque só descobrimos que somos realmente felizes depois que perdemos, e muitas vezes pode ser tarde demais. Então eu prefiro não afirmar que sim nem que não.
Porque eu juro, se eu perder alguma coisa dessa vez, e novamente... Sinceramente, não sei se iria suportar."
Me incomodava pensar que todas aquelas afirmações acerca de perdas e sofrimento eram dirigidas, ainda que inconscientemente, a mim. E que todos os elogios e venerações eram dirigidas a Jacob.
Eu sabia que a havia magoado, demais. Mas eu também sabia que, durante todo o tempo em que estive ao seu lado, eu a amei mais do que a qualquer coisa no universo. Será que isso não contava nem um pouco? Nem para servir de boas lembranças?
Eu sabia que tal pensamento era egoísta, mas não podia fazer nada se, apesar de já ter vivido quase dois séculos, eu ainda sofria com sentimentos basicamente humanos. E apesar de ser muito raro encontrar algo que me infringisse dor física... Bem, a dor que ardia em meu peito era muito, muito pior.
Mas, naquilo tudo, uma luz surgiu em minha mente.
Eu precisava ver Bella, olhá-la mais uma vez, sentir o timbre da sua voz penetrar em meu cérebro, como uma droga satisfazendo meu organismo. E sabia que encontrá-la ao vivo seria uma luta árdua, da qual eu não desistiria, mas que poderia demorar mais do que eu necessitava.
Então enxerguei uma outra maneira de amenizar meu desejo, minha ânsia. Antes que eu pudesse sequer me mover, Alice estava prostrada na porta.
- Eu já vi o que você vai me pedir. E sei que você pode ler que não acho uma boa idéia.
- Você disse que eu podia contar com você. Não disse? - Alice suspirou, sabendo que perdera a discussão. - Você pegou o telefone dela?
Alice assentiu com a cabeça. E não precisou que eu falasse mais nada para pegar o celular e discar o número da filha de Bella.
- Alô? Alice? Er, oi, sou eu, Alice... Sim, sim... Olha, eu fiquei pensando na nossa conversa... E você tem razão em muitas coisas, na verdade na maioria delas – fechei os olhos quando Alice falou isso. – Mas eu estava pensando... Como eu disse, eu realmente estou com saudade de Bella... Então me lembrei... Ela deve ter algum vídeo, não é? Do casamento, por exemplo? Hum... Sei... E será que você poderia me emprestar? Oh. Ótimo. Muito, muito obrigada Alice. Eu lhe serei grata eternamente.
Alice desligou e jogou o celular em meu peito.
- Está feito. Mas você vai sofrer. Eu vejo. Não diga que não avisei.
Depois que Alice saiu, refleti sobre o aviso que ela havia me dado. Eu ia sofrer. E a pergunta que gritava em minha mente era: mas eu já não estava sofrendo? Não estava convivendo diariamente com a sensação de ter meu peito esmagado? Então, que diferença poderia fazer?
Sem contar que, de repente, ver a imagem de Bella, escutar sua voz doce e suave, poderiam me dar forças para continuar existindo.
Reabri o diário e, mais uma vez, afundei-me em suas palavras, rezando a cada linha para encontrar algo que me desse ânimo.
"01 de janeiro de 2007
A noite de ontem foi simplesmente perfeita. Não consigo encontrar um adjetivo que caracterize melhor os momentos de paz e felicidade que vivenciamos!
Como já faz algum tempo que não escrevo, vou começar do começo.
Na véspera de Natal, todos nos reunimos na casa de Emily. Quil fantasiou-se de Papai Noel e Clair foi a rainha da noite - sua risada inocente e sincera emanava pelo recinto de forma reconfortante e acolhedora.
Eu e Sue ficamos responsáveis pela ceia, que, diga-se de passagem, ficou deliciosa. Emily cuidou da sobremesa e recebeu reforços inesperados de Renée, que chegou de surpresa, acompanhada de Phill e de várias e várias sacolas de presentes para sua neta.
No dia 28 fiz o primeiro ultrassom... E estou grávida de uma menina! Ainda não conversei com Jacob, mas quero que ela se chame Alice. Esse nome tem um significado muito importante para mim, em minha vida. Seria maravilhoso poder colocá-lo em minha filha, homenageando uma pessoa que, mesmo sem ter consciência disso, marcou minha história de maneira profunda.Torço para que ele aceite.
A noite de ontem, véspera de ano novo, conseguiu ser ainda mais perfeita que a de Natal!
Preparamos um luau e acendemos uma grande fogueira, as chamas de cor azul altas e densas iluminando a noite de céu límpido e estrelado. O ano novo chegou cheio de esperança. Pela segunda vez em pouco tempo vi charlie chorar, enquanto abraçava a mim e a Jacob calorosamente.
Depois de cumprimentar a todos, estava em uma roda com Emily e Sue, conversando sobre o almoço do dia seguinte, quando senti o olhar de Jake sobre mim. Ele me chamou com a cabeça, sorrindo. Pedi licença e fui até ele, que segurou a minha mão, dizendo que queria me mostrar uma coisa. Fomos andando, nos afastando um pouco da praia, a caminho da vila.
De repente Jacob ficou atrás de mim, suas mãos grandes tapando minha visão. Choraminguei, querendo saber o que era, em vão. Só consegui descobrir quando Jacob retirou as mãos, meus olhos se abrindo lentamente, aos poucos se acostumando com a luz da lua, as imagens tomando forma.
Então pude ver, ali, bem a minha frente, a felicidade que estava guardada para meu futuro.
A casa é simples e modesta. Mas também é linda, aconchegante, acolhedora, é... É PERFEITA!
No mesmo instante pude imaginar nós dois vivendo naquela casa; nossa filha crescendo, nossos amigos na varanda... Virei de frente para Jacob e enlacei seu pescoço num pulo, os braços dele apertando minha cintura, nossos lábios festejando aquele momento de uma forma maestral.
Até agora, enquanto me recordo daquele momento mágico, sinto meus olhos encherem-se de lágrimas, uma reação do meu organismo, que está transbordando de felicidade. Claro, com uma boa ajuda dos hormônios.
Enfim...
Sei que, com tudo isso, com toda essa felicidade que está me rodeando, com toda a tristeza tendo finalmente ficado para trás... Não tinha sequer o direito de me permitir pensar nessas coisas, mas infelizmente é inevitável. Meu cérebro (ou seria meu coração?) não consegue deixar de se perguntar se Ele sabe de tudo isso... Se Alice viu tudo o que aconteceu, se sabe que eu estou grávida e que vou me casar...
Me casar COM OUTRO.
Bom, se sabe, não deve fazer diferença."
Em um impulso de pura raiva lancei o diário para longe. Um modo, também, de me prevenir para não transformá-lo em pedaços.
Fechei os olhos e fiquei ali remoendo, repassando mil e uma vezes aquelas palavras em minha mente. Quando fui interrompido pelos pensamentos de Alice, parecia que eu havia retornado quarenta anos no tempo, para uma época pós Bella em que eu simplesmente hibernava, vivia todos os minutos em um sono profundo, de olhos abertos, sem ver o tempo passar.
"Eu trouxe o que você pediu."
Voltei o olhar para ela, que estava parada ao meu lado, a mão estendida em minha direção.
- Já? Ela não se assustou com a sua rapidez? Você mal acabou de ligar para ela...
"Você é que não viu o tempo passar, Edward. Já está de noite. Eu saí daqui, fiz hora, fui e voltei. E você não moveu um único músculo."
Peguei o pequeno Pen drive das mãos de Alice, sem entender nada.
- O que é isso?
"Eu te disse que você não viu o tempo passar. Nesse tempo eu ainda fui até Port Angels e mandei transformarem o DVD para cá. Não sabia se tínhamos aparelho de DVD aqui, ainda. Já é muito ultrapassado."
Assenti com a cabeça e olhei para o Pen Drive em minhas mãos.
- Você quer que eu fique aqui com você? – A voz de Alice ecoou pelo ambiente silencioso.
Inspirei o ar com força. Assenti com a cabeça.
- Sim, eu quero. Apesar de você já saber o que vai acontecer... Já haver me precavido. Vai ser mais fácil com você aqui.
Os ombros de Alice caíram e ela sentou-se ao meu lado, enquanto eu plugava o pen drive e esperava a imagem aparecer na tela.
"Casamento de Isabella Marie Swan e Jacob Black
14 de fevereiro de 2007"
14 de fevereiro. Dia de São Valentim. Dia dos namorados.
Dia em que a vida de Bella havia começado realmente. E que a minha alma havia sido enterrada.