A Escolha Perfeita
Sinopse:
Um anjo com uma missão especial.
Uma mulher independente e solitária. Um homem que vagava sem rumo.
Duas almas que foram criadas para seguirem unidas.
Quando duas almas se completam, conseguimos entender o verdadeiro significado da palavra amor.
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Meu nome é Valentim. Sou o anjo do amor, paixão e romance. Os humanos costumam me chamar de cupido e me desenham com asas, olhar ingênuo e portando um arco e uma flecha, pois dizem que meu alvo preferido são os corações solitários.
Bem, eles não estão de todo errados.
Durante a maioria dos meus dias, realmente me empenhei em semear o amor nos corações dos humanos; aleatoriamente, os escolhia e premiava com a sorte e a felicidade de poder vivenciar o sentimento mais puro do universo.
Porém, infelizmente, com o passar dos anos eu fui me tornando cada dia mais e mais incrédulo.
Os humanos não sabiam aproveitar a dádiva do amor. Começavam bem, entusiasmados com o fervor que a paixão os fazia sentir... Uns e outros até se esforçavam para manter a chama acesa quando o sentimento, antes gritante e arrebatador, transformava-se em algo belo e singelo, com muita intensidade porém mais brando: no amor.
Mas a verdade é que a grande maioria não sabia cultivar esse sentimento tão nobre com que eu os presenteava... Inúmeras vezes - tantas que já perdi a conta - humanos que se diziam completamente apaixonados traiam a confiança do seu parceiro, agindo com deslealdade e total falta de companheirismo e empatia.
Essas atitudes foram, aos poucos, me desanimando. Meu desânimo gerou minha ausência, o que diminuiu minha credibilidade. Cada dia mais os humanos importavam-se menos com o amor; cada dia mais eles viam-se ligados a sentimentos pequenos e degradantes, como inveja, raiva e rancor.
Quando finalmente dei por mim e percebi o caos que havia se estabelecido com minha ausência, percebi que devia tomar uma medida drástica para resolver a questão. Devia encontrar dois seres que se completassem por inteiro; que, mesmo sem saber da existência um do outro, suas almas fossem a exata metade uma da outra, e se reconhecessem desde o primeiro momento.
Claro que a busca não foi fácil. Nem um pouco.
Mas uma das minhas virtudes é a persistência. Procurei por todos os lugares do planeta e cheguei a encontrar almas que, ao mesmo tempo em que se completavam, eram incompatíveis: ou porque eram irmãos, ou por causa da enorme diferença de idade, ou ainda devido à imensa distância geográfica em que co-existiam.
Muitos humanos não entendem o fato de conhecerem um total estranho e pura e simplesmente se identificarem com ele, de cara. Ou o fato de terem uma ligação mais que especial com alguém da família, um irmão preferido, ou algo do tipo.
Mas a verdade é simples e óbvia: são duas almas que se completam e encontraram uma maneira de seguirem unidas.
A questão é que, persistente ou não, eu já estava quase desistindo e aderindo à idéia de que o ser humano, em sua grande maioria, havia desistido de amar; havia se fechado em um casulo impenetrável que ninguém conseguia transpor, nem mesmo eu.
Então eu os conheci.
Suas almas me chamaram a atenção separadamente – os dois viviam relacionamentos falidos e desgastados, sementes que eu mesmo havia plantado anteriormente e que não haviam florescido. Da mesma forma, os dois humanos tinham personalidades fortes e interessantes, que por si só brilhavam veementemente, praticamente ofuscando qualquer um que estivesse ao redor.
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi em quão poderoso seria o amor dos dois. Quão poderosa seria a força e o sentimento que emanaria deles juntos. E a visão que tive foi perfeita.
Senti minha própria alma sorrir em satisfação com a minha escolha. Sabia que não seria nada fácil, absolutamente; por si só, cada um tinha um estilo de vida completamente diferente do outro, porém com tantas semelhanças visíveis, que chegavam a ser palpáveis. Quem conhecesse somente sua alma, sem olhar seu rosto ou sexo... Diria que viam duas versões de um todo.
Eu os observei por algum tempo, definitivamente fascinado com as particularidades e semelhanças de cada um. Poderia passar o resto de suas vidas corpóreas os analisando e creio que não seria suficiente.
Quando finalmente aceitei que eles foram feitos um para o outro, sem qualquer sombra de dúvida, eu me coloquei em ação.
Eles exerciam a mesma profissão; a mulher, nascida em família renomada no ramo, apesar de jovem já havia sido presenteada com reconhecimento e oportunidades. O homem, apesar de talentoso em diversas áreas, ainda escalava um árduo caminho a fim de alcançar seus objetivos. Era claro que o encontro precisaria de uma ajudinha dos anjos. No caso, do anjo. Eu.
Me dirigi aos meus superiores e detalhei a situação. No mesmo instante, como era de se esperar, todos ficaram encantados com a história que eu havia recitado e decidiram me ajudar a promover o encontro dos dois, que não moravam longe de forma que seria impossível uni-los, mas tampouco eram vizinhos.
Todos se envolveram com o coração naquela história, e sabiamente concluímos que, para que tudo desse certo, precisaríamos escolher alguém de bom coração e que realmente acreditasse no amor para nos ajudar. Um humano, ou humana, que possibilitasse a união dessas almas gêmeas, favorecendo o nascimento de uma das histórias de amor mais lindas e perfeitas que a humanidade já havia presenciado.
Depois de muito debatermos e divergimos, conseguimos finalmente e sem qualquer discordância escolher uma humana, com uma alma de essência pura e amável.
A humana em questão se chamava Catherine Hardwicke, uma diretora de cinema voltada a dirigir filmes independentes e de poucos recursos, que estava se aventurando em transformar um best seller num filme recorde de bilheteria.
A atriz que ela havia escolhido para interpretar o papel da personagem principal, Bella Swan, era Kristen Stwart, uma das almas interessantes que haviam me fascinado.
Catherine já estava ficando desanimada, pois depois de inúmeros testes ainda não havia encontrado o par perfeito para Bella – o nome do “vampiro galã” era Edward Cullen – e isso se dava pelo simples motivo de que, para isso, teria que encontrar o par perfeito para Kristen, também.
Mas eu sabia que o nome dessa pessoa era Robert Pattinson, e que ele se encontrava em Londres. Então, a única coisa que faltava era colocar meu plano em ação.
Com a ajuda de Jorge e Gabriel - que estavam entediados e adoram histórias de amor - dei um jeito para que o script chegasse às mãos de Robert, bem como consegui encaixa-lo para um teste.
No dia marcado acompanhei Robert até a casa de Catherine. Observei curioso enquanto ele apagava o cigarro que havia jogado na calçada com a ponta do tênis e mexia nos cabelos nervosamente enquanto aguardava na porta.
- Olá, boa noite! Robert não é? – Ele assentiu sorrindo. Catherine o recebeu como se o conhecesse há anos. – Chegou bem na hora, estávamos aguardando por você!
Eles entraram e eu decidi acompanhar; não achei que seria abuso, tendo em vista que eu havia sido o verdadeiro organizador do encontro.
Kristen estava sentada do lado de fora da pequena varanda da casa de Catherine; os pés, revestidos por um all-star preto e encardido, estavam sobre um pequeno banco, e ela tragava um cigarro de filtro amarelo enquanto, sem perceber, mexia desleixadamente nos cabelos longos e com fios levemente avermelhados.
Robert chegou ao meio da sala, os olhos analisando com cautela e curiosidade o ambiente ao seu redor: um lugar aconchegante, levemente bagunçado, o que lhe concedia um ar acolhedor e reconfortante. Então seu olhar desviou-se para a varanda, alcançando os tênis que balançavam levemente sobre o banco e subindo pelo corpo da garota, pairando no perfil pensativo de Kristen enquanto um sorriso torto se formava inconscientemente em sua face.
No mesmo instante um leve arrepio percorreu o corpo da garota, e ela envolveu-se em um abraço.
Mal sabia ela que o arrepio frio que sentira era uma resposta de sua alma, tão feliz estava por finalmente encontrar o rapaz que a observava, antes mesmo que ela notasse sua presença.
- Kristen? – A voz tranqüila de Catherine trouxe a garota de seus devaneios. – Vem aqui, Robert acaba de chegar.
Ela se levantou, apagando o cigarro num cinzeiro que estava sobre a mesinha ao seu lado e enfiando as mãos nos bolsos da frente do casaco. Assim que passou pela porta e seus olhos verdes e intensos encontraram o olhar de Robert, por trás de seus longos cílios, ela estancou.
O corpo de cada um teve reação idêntica a do outro, como uma imagem sendo refletida em um espelho com perfeição.
As pupilas dilataram-se imperceptivelmente; o coração aumentou gradativamente o ritmo com que bombeava o sangue pelo organismo; a respiração, antes calma e tranqüila, num segundo tornou-se entrecortada e acelerada; por um momento a única imagem que preenchia a mente e que penetrava no organismo era o rosto do outro, toda e qualquer preocupação deixando de existir.
- Essa é Kristen Stewart – Chaterine disse, o olhar passeando curioso de um para o outro. – E esse é Robert Pattinson.
- Muito prazer - falou o rapaz, aproximando-se um passo. Mais uma vez um arrepio percorreu o corpo de Kristen, quando a voz aveludada e de sotaque britânico penetrou em seu organismo. - É uma honra ter a chance de trabalhar com você!
A garota sorriu sem graça, as mãos imediatamente mexendo nos cabelos.
- Obrigada... Bem, vamos ao teste então? Foi um dia longo e estou realmente exausta.
Tanto Catherine como Robert concordaram e o teste, uma cena de beijo reproduzida no quarto da diretora de forma totalmente impessoal, surpreendeu a todos pelo modo como emanou energia.
O beijo se encaixou perfeitamente; o corpo ansiando por mais, ávido por matar o desejo inexplicável do outro; as mãos ansiosas por reconhecer e demarcar o território que queriam para si.
Isso aconteceu há dois anos atrás.
Agora, observando a cena que se revela à minha frente, não me surpreendo ao perceber que meus olhos estão repletos de lágrimas. Lágrimas de felicidade. E logo no dia de hoje. É um verdadeiro presente para mim.
Robert está deitado na cama, a cabeça apoiada no cotovelo, o olhar carinhoso sobre a garota que respira tranquilamente ao seu lado.
Eles estão diferentes: a barba do rapaz esconde seu maxilar bem demarcado e o cabelo da garota, antes longo e castanho, está mais curto e negro como a noite.
Mas as almas... Bem, as almas deles continuam exatamente iguais. Perfeitas uma para a outra.
Saio de meus devaneios quando Kirsten se mexe levemente, o olhar se abrindo lentamente, um sorriso surgindo sincero ao se deparar com Robert.
- Você tem que parar com essa mania de me observar enquanto durmo, amor... - ele sorriu com aquelas palavras da amada e retirou uma mecha que caia sobre os olhos cor de esmeralda da garota.
- Jamais. Posso afirmar com certeza que esse é um momento do qual não abro mão... Um momento único e exclusivo em que paro e percebo o quão sortudo eu sou por ter você ao meu lado, Kris.
A humana levou a mão ao rosto do rapaz, que fechou os olhos e inclinou-se em sua direção.
- Eu amo você - ela disse sem medo, verdadeiramente, do íntimo do seu ser.
Ele abriu os olhos e se virou, abrindo a gaveta da mesinha que havia ao seu lado da cama, retirando uma pequena caixa e voltando-se novamente para Kristen.
- Happy Valentine´s day - disse.
Num impulso, a garota sentou-se na cama e pegou o presente, um vinco profundo marcando a testa no meio dos olhos.
Vinco que se desfez no momento em que ela abriu a pequena caixa de veludo preta e voltou a encarar o olhar apaixonado do homem à sua frente.
- Eu também amo você - ele falou, sem desviar o olhar. - Te amei desde a primeira vez que te vi, escondida naquele casaco duas vezes maior que seu tamanho, usando um All Star sujo e fumando um cigarro na casa da Catherine. Desde o primeiro momento eu soube que era você, pura e simplesmente, sem maiores explicações. Desde o primeiro momento soube que você era a mulher da minha vida; que com você eu passaria meus melhores momentos; que ficaríamos juntos para sempre.
Kristen limpou uma lágrima solitária que teimou em cair pelo canto do olho e sorriu.
- Você aceita se casar comigo? - Robert perguntou sorrindo, sem receio da resposta que ouviria.
- Claro. Claro que aceito me casar com você. Eu já sou sua.
Eles se beijaram e eu parti, repleto de felicidade e satisfação por ter feito a escolha mais perfeita de todas.
Definitivamente, aquele casal havia sido feito um para o outro.
FIM.