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Efeito Dominó

Efeito Dominó

EFEITO DOMINÓ

 

Sinopse: 


Edward Cullen é um bem sucedido agente do FBI.

No auge de sua carreira, sendo considerado o melhor agente de sua geração, descobre da pior maneira que nem tudo está sob seu controle. Inconformado, Edward consegue racionalizar apenas uma coisa: vingança.

Toda causa tem seu efeito; todo efeito tem sua causa.

Nada acontece por acaso: todos somos responsáveis por nossos atos e por suas eventuais consequências.



~~~


 

 

CAPÍTULO 1

 

O lugar estava totalmente lotado, mas o homem que era o motivo de tamanha comemoração permanecia sentado à sua mesa redonda de dez lugares, pensativo. Ele deveria estar bebericando um copo de champagne e perambulando pelo imenso salão enquanto recebia elogios, mas a verdade é que Edward Cullen nunca fora adepto de grandes festas, principalmente quando era o alvo das atenções.


Edward levantou-se, fechando instintivamente o botão de seu smoking, e andou em direção à imensa parede de vidro. Observou a cidade que se desvendava diversos andares abaixo; à noite, com suas milhares de luzes piscando incessantemente, Manhattan parecia bem mais tranquila do que realmente era. Um garçom discreto aproximou-se e ofereceu-lhe um copo de champagne, ao que Edward aceitou. Levou o cirstal trabalhado a oca e sorveu um longo gole, convencendo a si mesmo que era melhor deixar o corpo relaxar um pouco, pois todo aquele tormento ainda demoraria a acabar.


- Papai!


Sem perceber, Edward sorriu ao escutar aquela voz ligeiramente aguda, típica de uma criança de quatro anos de idade. Virou-se na direção de onde vinha o som que era como música aos seus ouvidos, ainda sorrindo. Sophia Cullen corria alegremente, ziguezagueando entre as cadeiras ornamentadas, o vestido fino de organza flutuando no ar.


- Hey, princesa... - Edward apoiou o copo em uma mesa próxima e abaixou-se, bem a tempo de segurar sua filha, que pulava em seus braços fortes. - Sua mãe já não lhe disse que você deve se comportar como uma mocinha, hã?


- Ora, como se essa garotinha me desse ouvidos, não é? - Tânya, ex-mulher de Edward, aproximou-se em seguida. Olhando para ela, Edward não pôde deixar de afirmar para si mesmo que ela continuava belíssima: talvez uma das mulheres mais bonitas que já conhecera. Eles haviam se conhecido no colegial, e namoraram por anos a fio. Quando Tânya engravidou, Edward, como completo cavalheiro que é, não viu outra possibilidade senão casar-se com ela, já que tal fato realmente estava em seus planos, ainda que não tão cedo. Infelizmente, apesar da paciência de Edward e de muitas tentativas de reconciliação, o casamento mostrou-se insustentável após o primeiro ano de nascença da única filha do casal, Sophia.


- Papai, mas eu sooou uma mocinha! - Os dedinhos gordos seguravam a gola do smoking com força, mas Edward não ligava se saíria todo amassado. - Não é verdade?


Edward sorriu.


- Sim, claro que é - despejou um beijo amoroso na ponta do nariz da criança, que gargalhou sem pudor. - Só que às vezes você se esquece disso.


- Mas você me ama mesmo assim, né papai?


Os olhinhos verdes de Sophia, num tom de verde tão similar ao do pai, estavam arregalados, esperando ansiosamente pela resposta. Edward firmou as perninas em volta de sua cintura e tirou delicadamente alguns fios de cabelo acobreados que haviam grudado em sua bochecha rosada.


- Claro que amo, querida. Você é minha princesa, lembra-se? É tudo que eu mais amo no mundo.


- Sophia... - Tânya aproximara-se um passo e tocou o queixo da criança com cuidado, fazendo-a olhar para si. - Querida, seu padrinho está lhe chamando! Ele quer te ensinar aquela mágica nova, lembra-se?


- Oba! - A menina pulou do colo de Edward desesperada, em seguida começando a correr para o lugar de onde viera. Parou alguns passos após. - Papai, quer vir comigo? Dindo Emmet também lhe ensina, eu peço para ele!


- Não, querida... Seu padrinho jamais vai querer que eu aprenda. Sua mãe e eu iremos em seguida, sim?


Sophia balançou a cabeça e recomeçou a correria em direção ao padrinho. Tânya virou-se para Edward, que, por sua vez, voltou a encarar a cidade através da imensa janela de vidro, enfiando as mãos nos bolsos da calça.


- Você parece tenso.


Aquela afirmação fez com que Edward a olhasse de soslaio. Apesar de separados há quase dois anos, ele ainda se surpreendia como Tânya conseguia lê-lo com facilidade.


- Você sabe que não gosto dessas comemorações tolas, Tânya. É só isso - respondeu, dando de ombros.


- Tola? - A mulher alta e esguia virou-se para Edward, passando sem preceber as mãos pelo vestido de seda preto e em seguida pelos cabelos longos e ondulados. - Edward, a comemoração é muito mais que merecida! Há quantos anos voê trabalha nesse caso? Eu ainda estava grávida, por Deus!


Edward suspirou pesadamente. O que Tânya falava era verdade: ele e sua equipe do FBI estavam há algum tempo empenhados em prender Marcus Volturi, um membro da Máfia Italiana [i]Cosa Nostra[/i]. Marcus não era, nem de longe, o homem de frente da Máfia, mas mesmo assim tê-lo como testemunha do Estado era uma conquista, no mínimo, honrosa.


E tal conquista fora exclusiva de Edward Cullen.


Diferentemente do que muitos pensam, a Máfia continua a crescer em todo o mundo. A diferença é que, nos dias atuais, ela existe camuflada por diversas outras atividades caracterizadas como honestas; você pode não imaginar, mas diversos bancos, indústrias e empreiteiras iniciaram-se, na verdade, com o objetivo único e exclusivo de esconder o verdadeiro motivo de sua criação: a Máfia. 
A verdade é que a Máfia é um tipo de crime organizado não apenas ativo em vários campos ilegais, mas também com tendências a exercer funções soberanas - normalmente pertencentes a autoridades públicas - sobre um território específico.


Cosa Nostra, mais especificamente, é uma atividade criminosa secreta, desenvolvida na Itália, mas que cirou raízes no Leste dos estados Unidos. É também a Máfia mais conhecida na Itália, sendo seus membros hmens com coração frio. É composta por um grande número de gloriosos ladrões e assassinos. A prostituição, extorsão, bebidas alcólicas, jogo, rapto e assassinatos são alguns dos seus métodos.


- Eu só fiz meu trabalho, Tânya. É para isso que estudei, me especializei. Não mereco ser parabenizado por concluir o objetivo que me foi dado.


Tânya expirou o ar com força, visivelmente contrariada. Ela e edward já haviam discutido diversas vezes por aquele motivo: apesar de ser o melhor no que fazia, Edward era modesto demais. Ela sabia que Edward atuava naquele ramo pura e simplesmente porque esse era seu dom, mas não conseguia entender porque era tão difícil simplesmente receber as honras quando exercia esplêndidamente seu trabalho, já que ele arriscava diariamente sua vida em pro, de seu ofício.


- Eles incubiram essa tarefa à você porque sabiam que você era o único capaz de exercê-la com excelência, Edward. E foi exatamente o que você fez.


- Não trabalhei sozinho. Tive uma equipe. Emmet mesmo foi essencial para a prisão de Marcus.


- Sim, mas o infiltrado foi você. Mesmo com uma outra identidade, você foi o único que misturou-se àquela gente. Se não fosse por você, não havia motivo para comemoração nenhuma essa noite.


Edward fechou os olhos, apertando o topo do nariz entre o polegar e o indicador. Abriu a boca para responder, mas foi impedido por seu superior, que havia subido no pequeno palco montado ao oeste do imenso salão e pegara o microfone.


- Boa noite, queridos amigos. Estamos aqui essa noite para comemorar um feito de grande importãncia conquistado essa semana. Como todos sabem, a principal meta do FBI é controlar os Estados Unidos, manter e aplicar as suas leis criminais e dar liderança e serviços de justiça criminal aos parceiros e agências municipais, estaduais, federais e internacionais, em toda e qualquer ocasião.E foi exatamente isso o que um homem em especial realizou, sendo a peça mais importante na prisão de Marcus Volturi, membro da Máfia Cosa Nostra. O nome dele é Edward Cullen, e eu o chamo aqui para algumas palavras.


Todos no salão ornamentado aplaudiram. Os rostos voltaram-se para trás, procurando pelo homem alto a quem o orador havia se referido. Edward inalou o ar profundamente e deu um passo, mas foi impedido por Tânya, que segurou seu braço direito.


- Estou preocupada com você.


Edward não preocupou-se com a demora de atender ao chamado. Virou-se para a ex-mulher, pacientemente, a expressão serena dentro do possível.


- Não fique. Acabou, Tânya.


- Eles podem vir atrás de você. Sempre há essa possibilidade, você os deixou loucos de raiva.


- Eles não sabem quem eu sou. É por esse motivo que usei uma identidade secreta, Tânya.


A mulher engoliu em seco, afirmando silenciosamente com a cabeça, ainda sem estar completamente convencida do que ele dizia. Edward segurou seu rosto com as mãos firmes e despejou um beijo lânguido em sua testa.


- Fique tranquila. Nada acontecerá comigo.



***

 


A orquestra tocava, mas os casais na pista já eram poucos. Edward estava sentado na cadeira com a pequena Sophia aninhada em seu colo. Ele a observava tenramente, a ponta do indicador traçando de leve os traços do seu rosto, gesto que ele estava acostumado a fazer desde quando a filha era bebê. 
 
 
- Edward... - Tânya voltara do toillet e sussurava, a fim de não acordar a menina. - Acho melhor a levarmos embora. Já é tarde.


- Claro, com certeza. Já solicitei o carro, eu peço para o motorista deixar vocês em casa.

- Ed! - Emmet também falava baixo, mas a ansiedade em sua voz era palpável. - Irmão, não vá ainda! Preciso falar uma coisa urgente com você!


Edward rolou os olhos, encarando o irmão dois anos mais jovem. Emmet Cullen não era exatamente parecido com Edward, no sentido físico da palavra: seus músculos excessivos o faziam muito maior e mais assustador do que realmente era, e os olhos azuis divergiam do verde intenso dos olhos de Edward. Os cabelos castanhos e raspados também em nada lembravam o do irmão, que eram cor de bronze e viviam bagunçados e rebeldes, fruto de seus dedos longos, que passeavam constantemente entre seus fios.


- Não pode ser amanhã, Emm? Sophia está dormindo sono solto.


Emmet encolheu os ombros, sentindo-se culpado por sequer cogitar atrapalhar o sono da afilhada. Olhou para Edward que, por sua vez, encarou Tânya.


- Tudo bem, Edward... Não tem problema. Nós iremos para lugares separados de qualquer maneira. Eu pego um táxi, e...


- Nem pensar. Espere um minuto.


Após passar Sophia para o colo da mãe com delicadeza, Edward afastou-se e dirigiu-se a um dos seguranças da festa. Retornou segundos depois, com o homem em seu encalço.


- Já conversei com a segurança. Você vai no meu carro, já forneci-lhes o endereço. Estão providenciando outro para mim - acariciando quase sem tocar a face de Sophia, Edward inclinou-se em direção ao corpo miúdo e exausto da menina. - Boa noite, princesa. Eu amo você - sussurrou entre os cabelos cacheados.


Tânya despediu-se com um aceno leve de cabeça e se afastou, acompanhada do segurança que a levaria até o carro anteriormente destinado à Edward.


- E então, Emm? Qual é o motivo da sangria desatada?


Emmet indicou uma cadeira e ambos se sentaram. Segurando o copo de uísque com firmeza, Emmet analisou por um longo segundo o líquido em seu interior, movendo a mão em círculos e fazendo as pedras de gelo baterem no cristal.


- Tomei uma decisão, irmão... Queria saber sua opinião. Ela é muito importante para mim.


Edward cruzou os braços e recostou-se na cadeira acolchoada. Analisou o irmão mais novo com atenção; a ansiedadea estava explícita em todos os seus gestos. Pensou em como Emmet o consultava todas as vezes em que precisava tomar alguma decisão realmente importante em sua vida, e em como sentia-se feliz – e também preocupado - por sua opinião ter um peso tão decisivo. Edward não tinha certeza, mas acreditava que o irmão mais novo havia seguido aquela profissão única e exclusivamente para parecer-se com ele.


Ele tinha razão.


- Fale, Emmet.


Emmet o encarou. Os olhos azuis estavam estreitos e um vinco profundo marcava sua testa.


- Você sabe, Rosalie e eu namoramos há algum tempo...


- Um ano e meio - Edward interrompeu. Emmet assentiu com a cabeça.


- Exato. Um ano e meio. E, bem... Você sabe que sou completamente maluco por aquela mulher, Edward. Eu estava esperando essa operação acabar... Desde que fui recrutado para ela, minha vida estava um caos generalizado! Mas agora que acabou... Bem, eu penso em pedir Rose em casamento.


Edward suspirou fundo. Diferentemente do que muitos poderiam pensar, ele não era contra a instituição do matrimônio. Apesar de ter se casado – e divorciado – muito jovem (Edward contava com apenas 28 anos agora), ele realmente acreditava que um homem e uma mulher, quando realmente apaixonados, deveriam casar-se e viver eternamente em união, construindo uma vida a dois repleta de amor e respeito. O fato de permanecer sozinho desde que se separara nada tem a ver com desacreditar no amor; ele apenas não havia conhecido alguém que o fizesse amar novamente, talvez pelo fato de seu trabalho reter todas as suas energias.


Sem perceber, Edward olhou ao redor no salão, consciente de que sua demora em falar alguma coisa estava deixando Emmet ainda mais nervoso. Seu olhar recaiu sobre uma mulher linda no canto oposto do salão, que conversava animadamente com uma pessoa que lhe era estranha. Os cabelos loiros da mulher estavam presos em um coque, o que acentuava seu pescoço longo de cisne. Rosalie Hale era uma agente especial de outra unidade, mas mesmo assim uma das melhores com que ele já tivera a oportunidade de atuar, certa vez. Ela sorria despretenciosamente, e Edward flagrou-se sorrindo também.


- Tenho certeza que vocês serão muito felizes juntos, Emmet - falou, quando enfim tornou a encarar o irmão.


Um sorriso imenso e incontido estampou imediatamente a face de Emmet que, num impulso, colocou-se de pé, puxndo Edward pelo braço e lhe envolendo num abraço apertado.


- Eu sabia que você nos daria sua benção, Ed! E você será o padrinho, você sabe!


Edward ria enquanto tinha suas costas praticamente esmurradas por tapas de felicidade do irmão mais novo. O abraço caloroso foi finalizado apenas porque Edward sentiu seu aparelho celular vibrando no bolso do smoking.


- Edward Cullen.


Emmet observou, ainda sorrindo, o irmão levar o apaerlho ao ouvido. Ele voltou o olhar para a futura noiva, que respondeu com um beijo jogado ao vento. Quando tornou a encarar o irmão mais velho, não havia mais graça nenhuma no que via.


Edward estava sem cor. Como por mágica, todo o sangue existente em sua face havia desaparecido, e ele caiu sentado na cadeira em que estava segundos antes. O aparelho de telefone ainda estava entre seus dedos, mas sua mão trêmula caiu sobre a mesa num estrondo, derrubando alguns copos esquecidos ali.


- Edward! Por Deus, o que houve?


Algumas pessoas, entre elas Rosalie Hale, aproximaram-se ao ouvir o grito de Emmet e vê-lo abaixar-se em frente ao homegaeado da noite. Emmet, por sua vez, só visualizava o irmão, praticamente em estado catatônico, com o olhar fixo no nada. Segurou com força o rosto de Edward entre os dedos e o forçou a focalizar seus próprios olhos.


- Edward, irmão... O que diabos aconteceu?


- Um atentado - as lágrimas começaram a fluir incontidas dos olhos verdes, criando traços salgados na face de Edward. - Atacaram o carro em que Tânya estava com Sophia. Era para eu estar lá, Emmet! Minha filha, a coisa mais importante do mundo... Acaba de morrer, no meu lugar.


 

 

CAPÍTULO 2


 

 


Edward apertou o sobretudo negro contra o corpo, mais por instinto do que por frio. A chuva fina que caía no cemitério era como um presságio; um sinal de que, naquele dia, o destino havia sido irremediavelmente alterado.

 


Segurando com firmeza uma rosa, engoliu seco antes de despejá-la sobre o pequeno caixão branco de alças douradas, que jazia alguns metros abaixo do solo. Seus olhos verdes estavam vidrados naquela cena, cientes de que jamais esqueceriam aquele momento devastador, aquela sensação terrível.

 


Emmet segurou seu braço logo acima do cotovelo, e num gesto delicado forçou-o a se afastar, antes que a terra separasse Edward para sempre da filha idolatrada. Contrariando o esperado, Edward não derramou uma única lágrima: já havia chorado tudo o que devia na fatídica noite anterior, e não se preocupava com a imagem que vendia para terceiros.

 


A verdade é que a única coisa que Edward racionalizava naquele exato instante era vingança.

 


Dispensando o grande guarda-chuva negro que Rosalie sustentava sobre sua cabeça, Edward afastou-se. Andou alguns metros a esmo, sem destino algum a seguir. A única coisa que sabia era que o sentido primordial de sua vida havia sido brutalmente aniquilado por uma vingança injusta e aterradora, e que ele não conseguiria guardar para si aquela dor que o consumia.

 


- Edward.

 


Sem virar-se para trás, em direção a voz que o chamara, Edward fechou os olhos. Conhecia a dor do irmão; ele era muito apegado à Sophia, sua afilhada. Mas Edward sabia, também, que dor alguma jamais superaria a que ele sentia naquele instante.

 


- Irmão... Eu conheço você. Sei o que está pensando. E é exatamente por isso que eu lhe peço, ou melhor... eu lhe imploro: desista dessa idéia.

 


Um sorriso desgostoso escapou dos lábios de Edward, sem que ele pudesse conter. Passando nervosamente os dedos pelos fios de cabelo já bagunçados, fechou os olhos, erguendo a cabeça e deixando as finas gotas de chuva caírem no rosto, numa tentativa vã de lavarem-lhe a alma.

 


- Não tenho escolha, Emmet.

 


- É claro que tem, irmão... - segurando os braços de Edward logo abaixo dos ombros, Emmet virou o irmão mais velho para si. - Nosso chefe acaba de falar comigo. Você está de licença. Por tempo indeterminado. Precisa afastar-se um pouco, deixar essa loucura toda passar.

 


- Licença por tempo indeterminado? - A voz rouca de Edward alterou-se uma nota. - Afastado não seria uma classificação melhor? - Edward desvencilhou-se das mãos do irmão. - Não há motivos para isso. Eu nunca estive tão ávido por desepenhar meu ofício como agora.

 


- Você sabe que não é verdade, Edward. O que você deseja, nesse exato momento, não é cumprir com seu papel como agente especial. Você tem sede de vingança. Não posso dizer que não partilho essa mesma vontade, mas não desejo enterrar você, como estou fazendo agora com minha afilhada! E é isso que acabará acontecendo, caso você não tire esse idéia fixa da cabeça!

 


Edward gargalhou. Um som desesperado, até mesmo aos ouvidos de Emmet, que encolheu-se ligeiramente.

 


- Você se esquece de que sou o melhor, Emmet? - Edward tomara uma postura ofensiva, os ombros eretos e o peito inflado. - Não é isso o que todos vocês sempre costumam dizer para os quatro ventos? Que eu sou “o melhor”? Pois então deixem que o SenhorTodoPoderoso resolva essa questão sozinho! Porque a rixa agora é pessoal!

 


- Não posso deixar você assinar sua sentença de morte sem, ao menos, tentar impedir.

 


- Pois desista - os ombros de Emmet caíram, vencidos. - Eu acabo de ser enterrado junto com aquele caixão, Emmet. O Edward que você conheceu... Já não existe mais.

 


Sem falar mais absolutamente nada, Edward deu meia volta e se foi.

 

 

 


***

 

 


Charlie Swan permitiu-se dormir mais que o habitual naquela manhã. Sua esposa, Renée Swan, estranhou tal atitude, mas nada falou sobre o assunto ao encontrá-lo bem disposto na mesa farta do café da manhã: já havia aprendido, após mais de vinte anos de casamento, que o marido não era o tipo de homem com quem poderia conversar sobre trivialidades.

 


Como era de costume, ela aguardou o marido para o desjejum. Ambos sentaram-se a mesa calados, enquanto a criada uniformizada servia suas xícaras com café com leite desnatado. Renée observou o marido disfarçadamente: assim como todas as pessoas que conviviam com Charlie ela o temia, profundamente.

 


Conhecido por seu humor azedo e sua fúria impactante, Charlie Swan era o tipo de homem que silenciava qualquer lugar onde chegasse. Seja por respeito ou simplesmente por pudo medo, as pessoas mudavam de postura quando detectavam sua presença. E não era diferente quando se tratava de Renée.

 


A mulher observou o marido pegar um dos jornais do dia, posicionados estrategicamente ao lado direito de onde ele se sentava, e escolher o caderno de economia. Pousando o guardanapo de linho branco sobre o colo, Renée pegou o óculos de grau que estava caído sobre seu peito, preso por um fino cordão de ouro branco em seu pescoço, e resolveu distrair-se com alguma leitura matinal.

 


- Meu Deus! - Exclamou baixo para si mesma; há tempos havia desistido de travar qualquer diálogo com o marido, ainda mais naquele horário. - Essa cidade está cada dia mais violenta!

 


Contrariando a rotina diária, o comentário sorveu a atenção de Charlie.

 


- Por que você diz isso? 
 
Espantada com a atenção inesperada, Renée levou um longo segundo para perceber que havia colocado em palavras seus pensamentos. Essa simples demora fez Charlie revirar os olhos, impaciente, enquanto retirava sem qualquer menção de delicadeza o jornal da mão com dedos finos da esposa.

 


- Parece que um carro explodiu ontem, numa das principais avenidas de Manhattan... - Ainda tomada de surpresa, Renée prosseguiu com sua explicação, sem notar que Charlie já não prestava mais atenção em uma só sílaba que ela pronunciava. - Será que esses ataques terroistas não irão acabar nunca?

 


Charlie leu e releu a matéria com atenção. Ao que tudo indicava, um carro havia explodido na Avenida Pensilvânia, deixando três mortos. A notícia não informava a identidade das vítimas, o que não surpreendeu Charlie: o FBI costumava realmente ocultar dados quando era de seu interesse. O jornal, ainda, dava a entender que o suposto acidente havia sido causado por mais um ataque terrorista. Mais uma vez Charlie não se surpreendeu: desde os ataques de 11 de setembro, toda a vez que o FBI ou o governo desejavam encobrir algum detalhe da população deixando-a totalmente cega, era só mencionar algum tipo de ataque terrorista, sabendo que todos acreditariam piamente na versão.

 


Deixando a esposa confabulando sozinha à mesa sobre os riscos de se continuar vivendo em Nova York, Charlie levantou-se e dirigiu-se a passos largos para seu escritório no segundo andar. Sentou-se atrás de sua imensa mesa de carvalho e retirou o telefone sem fio - que continha uma linha segura - da base, apertando o botão de discagem rápida.

 


- Bom dia, chefe.

 


- Isso depende do ponto de vista, Félix. - Charlie recostou-se na cadeira, girando-a e abrindo uma brecha da cortina pesada com a mão livre. - Diga-me que nosso objetivo foi devidamente cumprido e, quem sabe, poderei concordar com você.

 


Houve um silêncio curto do outra lado da linha.

 


- O alvo foi exterminado – o homem do outro lado da linha falou, por fim. - Tudo saiu como planejado.

 


Um vislumbre de sorriso surgiu no rosto de Charlie, estreitando seus imensos olhos castanhos.

 


- Ótimo. A notícia no jornal de hoje informava que houve três vítimas.

 


- Sim, além do motorista, o homem provavelmente ofereceu carona para alguma infeliz, chefe. A vida é assim, quem mistura-se com porcos, acaba comendo farelo.

 


Charlie concordou para si, assentindo com a cabeça.

 


- Agora trate de limpar os rastros. Trate de acabar com Marcus Volturi.

 


- Pode deixar. Estamos providenciando isso.

 


- Tenha um bom dia, Félix. - Charlie finalizou a conversa, sem esperar resposta.

 


Levando as duas mãos à nuca, pensou em como faltava pouco para que Marcus Volturi se unisse, no inferno, ao infeliz que um dia havia se infiltrado em seus negócios.

 

 

 

***

 


Aparentemente, o comunicado que Edward recebera de Emmet no cemitério, sobre seu afastamento por tempo indeterminado, ainda não era de conhecimento geral do FBI, tendo em vista que ele não tivera qualquer dificuldade em utilizar sua impressão digital, que dava acesso a qualquer sala do J. Edgar Hoover Building, quartel-general do FBI em Whashigton.

Afrouxando o nó da gravata preta assim que entrou em sua sala, Edward deixou-se desabar na cadeira de couro. Fechou os olhos por um momento, preparando seu coração para quando tornasse a abrí-los e se deparasse com a foto de sua filha – sorrindo animadamente em um balanço, os cabelos acobreados emaranhados pelo vento - sobre sua mesa, ao lado do monitor. Concluindo que não estava preparado para isso, tateou ainda no escuro até tocar o porta-retrato – não sem antes derrubar o porta-lápis e todos os seus pertendes – e abaixou-o sobre o tampo de vidro.

Respirando profundamente, Edward abriu as pálpebras. Ele tinha muito trabalho a fazer e muito pouco tempo: tinha certeza que não demoraria até descobrirem onde ele estava e irem atrás dele, com aquela conversa fiada de que ele estava emocionalmente instável para continuar na ativa por enquanto. Levantou-se e foi até seu arquivo, encontrando rapidamente o que procurava: ele trabalhava nesse caso há anos a fio, sem intervalo.

 

Pegando duas pastas, Edward tornou a sentar-se. Abriu a capa preta da primeira sem pestanejar, passando os olhos direto pelas partes que – ele sabia – não lhe eram importantes, e ele já sabia de cor. Diziam, resumidamente, que Charlie Swan, membro chefe da Máfia italiana Cosa Nostra, era um cidadão memorável aos olhos dos meros civis: dono de diversas petrolíferas, havia saído ileso de todas as acusações criminais por insuficiência de provas.

Virando a página, Edward finalmente encontrou o que procurava. A árvore genealógica de Charlie Swan. Esposa: Renée Swan, Italiana, 39 anos. Filha: Isabella Marie Swan, americana, 21 anos.

Ainda com o nome ecoando em sua cabeça, Edward pegou a próxima pasta que tinha em mãos. Dessa vez, analisou a capa preta, passando a ponta dos dedos pelas letras do nome escritas sobre um adesivo branco: Isabella Marie Swan. Abrindo a capa, teve o seu olhar captado pela foto meio antiga presa com um clipe no canto superior esquerdo: nela, com um intenso olhar verde escuro emoldurado por ondulados cabelos castanhos, que contrastavam com a pele clara, estava a pessoa que preencheria seus minutos vazios durante algum tempo, diariamente.

- Olho por olho, dente por dente - sussurrou para a sala vazia.

Edward Cullen não sossegaria enquanto não matasse Isabella Marie Swan, filha única de seu - então - maior inimigo.

 

 

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